O incerto elenco em 2018 é (também) consequência de drafts ruins dos Seahawks
A forma ideal para se construir um elenco competitivo na NFL é o draft. Draft, de um modo geral, é o evento anual no qual as franquias da liga têm a oportunidade de recrutar os jogadores universitários. Esse recrutamento consiste em sete rodadas, as quais são delimitadas por uma decisão de cada equipe (troca ou seleção). O draft é o meio ideal para a construção de um time competitivo, uma vez que o time tem a chance de buscar um prospecto na posição de maior interesse. Além disso, os contratos dos universitários em geral, até mesmo os mais talentosos, são inicialmente menores que os de veteranos do mesmo nível.
No entanto, ao buscar um jovem de destaque no universitário e colocá-lo competindo no mais alto nível de futebol americano, você está sujeito ao risco que de ele não dar certo. Neste caso, quando suas escolhas nos drafts fracassam (os chamados bust), aquilo que poderia ser o começo de um projeto a longo prazo fica em xeque.
Um dos grandes exemplos de drafts instáveis nos últimos anos vem sendo o Seattle Seahawks. Chama atenção o fato de o time ter selecionado apenas dois prospectos de primeira rodada nos últimos seis anos. De fato, a menos que alguma suspensão histórica aconteça, não recrutar em uma primeira rodada indica que a escolha em questão fora trocada. Essa transação, portanto, levou algum jogador ao elenco. Entretanto, a primeira rodada é o momento mais importante do draft, visto que os principais talentos estão em pauta. Não recrutar ali, e realizar uma troca, é como se a franquia abrisse mão do futuro, e pensasse principalmente no presente.
A propósito, o Seattle Seahawks, devido à boas campanhas nos últimos anos, não teve escolhas tão altas em primeiras rodadas, fato que diminui a relevância das picks. Todavia, ficar três anos seguidos sem um nome de primeira rodada, como aconteceu com a equipe entre 2013 e 2015, é demais.
Curioso é que Seattle apareceu como um dos principais times da NFL para recrutar talentos em rodadas tardias. Richard Sherman e Kam Chancellor em quintas rodadas, K. J. Wright em quarta e até mesmo Russell Wilson em terceira rodada, impressiona. No entanto, o nome mais recente entre esses é Wilson, o qual chegou à liga em 2012. Desde então, foram cinco drafts e 49 escolhidos. Desses 49, é sensato o argumento de que somente dez tiveram sucesso – e de que nenhum prospecto foi ótimo, idem.
Os principais nomes
Vale salientar ainda que, dos dez nomes introduzidos acima, quatro já não fazem parte do elenco. Ou seja, estamos falando de seis nomes neste caso. Saquill Griffin ainda é jovem, mas aparenta ser um sólido titular. Chris Carson é um dos melhores running backs do elenco. Jarran Reed vem demonstrando boa evolução após duas temporadas. Frank Clark é agora o melhor pass rusher do grupo. Tyler Lockett tem aparecido cada vez mais como uma ameaça às defesas adversárias. Por fim, Justin Britt parece ter se encontrado na posição de center.
As maiores decepções
Há alguns dias, o Seattle Seahawks confirmou o corte do defensive lineman Malik McDowell, primeiro escolhido da equipe do Draft 2017. McDowell, um dos principais prospectos daquele ano, foi dispensado sem ao menos ter entrado em campo pela franquia. Sem dúvidas, ele foi uma das grandes decepções da história dos Seahawks em draft. Dos últimos anos, foi a principal. Antes dele, o grande bust foi Aaron Curry, o quarto escolhido geral de 2009. Em 2004, também havia boas expectativas sobre Marcus Tubbs, o qual disputou apenas 29 partidas profissionais. Lamar King (1999) e Chris McIntosh (2000) ainda merecem ser mencionados aqui.
“Ah, Caio, mas ultimamente não foram tantos busts assim!” É fato! Porém, os busts acontecem em especial com escolhas altas de draft, devido às altas expectativas sobre elas. Quando um time não recruta em rodadas tão altas, a possibilidade de fracassos diminui.
Falta foco?
A linha ofensiva do Seattle Seahawks é uma das piores da NFL atualmente. O setor não foi bem na temporada passada e, ao contrário do que era de se esperar nesta offseason, não recebeu reforços de peso. No Draft 2018, por exemplo, os Seahawks recrutaram somente um bloqueador, Jamarco Jones, na quinta (!) rodada. Com isso, o time fica marcado por dois drafts consecutivos sem um homem de linha ofensiva chamado acima da 168ª posição geral. Agora, desde 2014, Seattle escolheu 47 prospectos, sendo apenas oito deles destinados à linha ofensiva (aproximadamente 17%).
O resultado de tudo isso
Seria injusto dizer que a OL é o único grande problema do Seattle Seahawks. A verdade é que a franquia como um todo passada por um processo de reformulação. Ela ainda não encontrou um substituto à altura para Marshawn Lynch (Rashaad Penny neste draft foi uma tentativa interessante), o grupo de recebedores parece ter que apostar no veterano Brandon Marshall, a secundária não tem mais nenhum líder da Legion of Boom (ótimo grupo de defensores dos Seahawks que chegaram a dois Super Bowls consecutivos) e Michael Bennett foi trocado. É um completo processo de reformulação, o qual teve início após a campanha 9-7 em 2017, a pior do time desde 2011.
Na NFL, reformulações começam pelo draft. O Seattle Seahawks fez isso muito bem entre 2009 e 2013, e teve duas aparições em Super Bowl como consequência disso. Desde então, por mais que os retrospectos da franquia não tenham sido tão ruins, fica evidente que alguns setores precisam de reforços. Para 2018, isso está ainda mais claro. Veremos a partir de agora como os prospectos dos Seahawks corresponderão ao nível profissional, se serão apenas mais algumas meras estatísticas ou terão cacife para marcar a história da franquia.
Caio Miari Santos, 22 anos, jornalista e apaixonado por esportes, enfatizando os americanos, principalmente o futebol americano. É também fundador do Shotgun, no qual produz, apresenta e edita os podcasts do Rádio Shotgun! Contribui semanalmente com um texto sobre a bola oval para a THE360.
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