24/10/18

Se o Rock in Rio fosse gerido pela CBF

No último final de semana mais uma vez tivemos uma série de insinuações de dirigentes e treinadores sobre as decisões da arbitragem, como se as decisões tomadas pelos árbitros tivessem interesses visando favorecimentos de time A ou B.

Na quarta-feira da semana passada o VAR foi colocado em cheque devido à decisões da arbitragem, manchando o belíssimo evento da final da Copa do Brasil, com um show de abertura e um belo jogo de futebol.

Ao avaliar a contínua série de comentários e insinuações de dirigentes, treinadores, jogadores e da mídia sobre o Campeonato Brasileiro, como será que os torcedores, dos mais aos menos fanáticos, estão avaliando a credibilidade de um produto que já tem uma série de quesitos questionáveis?

Será que é tão difícil produzir um campeonato com valor agregado, credibilidade e qualidade no futebol brasileiro?

O benchmarking não precisa nem ser do exterior. Temos sucessos em outros eventos de entretenimento como o Carnaval carioca e baiano, o Rock in Rio e as festas do peão de boiadeiro espalhadas pelo Brasil.

Tomando o Rock in Rio como uma boa referência de um produto de sucesso, você imaginaria como seria o Rock in Rio se fosse gerido no modelo que atualmente o Campeonato Brasileiro é administrado?

Mesmo com todo o investimento em instalações de padrão similar aos demais festivais importantes que ocorrem ao redor do mundo, apenas 44 % dos ingressos seriam vendidos para todo o festival.

Como as bandas pensariam cada uma para si, o grupo que negociaria todos os quesitos mercadológicos em nome das bandas seria extinto e a emissora que adquirisse os direitos de transmitir do festival negociaria diretamente com as bandas, pagando um alto valor para uma banda de funk, um cantor sertanejo e uma cantora de axé, pois são as bandas que mais dariam audiência para a emissora.

A emissora, por ter o direito de transmissão, exigiria que os shows seriam no horário que ela bem entendesse, pois primeiro ela teria que agradar seu público com a novela e outros programas de maior audiência. Dessa forma muitos fãs deixariam de ir aos shows devido aos dias e horários definidos pela emissora e aceitos pela organização do evento.

Apesar de um line up do festival ter algumas bandas famosas, a grande maioria dos componentes das bandas seria de novatos em início de carreira, pois os mais famosos já deixaram a banda para tocar no exterior.

Esse mesmo público criticaria as bandas porque não criariam mais músicas novas e sempre tocariam o mesmo set list. Os músicos e managers reclamariam que, com esses ritmo alucinante de shows, aviões, hotéis, não teriam tempo para corrigir e melhorar as falhas dos shows e nem tempo nem inspiração para criar novas músicas.

Alguns managers reclamariam que uma banda estaria sendo privilegiada, a qualidade do som foi sabotada devido a interesses da TV e da organização do evento. Os músicos reclamariam da qualidade do som, achando que houve sabotagem.

No dia de uma das principais atrações do festival, um talento promissor e que atrai inúmeros fãs anunciaria que recebeu um convite para fazer uma filmagem em Hollywood, pois já havia assumido esse compromisso, e para seu lugar seria colocado um vocalista substituto, o que causaria enorme frustração do público e esvaziaria o show.

Mesmo com baixa procura, os fãs teriam que fazer filas quilométricas para comprar seus ingressos, mesmo com as compras pela internet já serem uma realidade em outros eventos no Brasil. Além disso, seria possível perceber que vários cambistas circulariam pelas ruas ao redor da cidade do rock, ofertando ingressos pelo triplo do preço das bilheterias.

Devido à falta de organização e visão de negócio, na mesma data seriam colocadas para tocar no mesmo palco uma banda de heavy metal, outra de boy band e uma banda de forró. A cada show, parte da plateia vaiaria a banda que não gostassem e vice versa, transformando uma bela noite de shows em uma praça de guerra, onde seria possível ver famílias com seus filhos correndo desesperadamente para fugir da briga e dos gases de pimenta que a polícia soltaria no meio da população.

Você imaginou o Rock in Rio gerido dessa forma?

Infelizmente o futebol brasileiro é gerido dessa maneira e tem todo o potencial para ser uma grande festa para todos os públicos a cada ano, como demonstrado num recente estudo da KMG. (Análise do potencial e atual oferta da Série A do Campeonato Brasileiro]

O dilema é saber até quando continuaremos desafinando no desperdício de potencial que o futebol brasileiro perde a cada ano bem como as distâncias cada vez maiores para os grandes centros do futebol mundial.

Marcelo Paciello - Apaixonado por gestão e marketing esportivo. Mais de 10 anos como gestor de negócios, mestre e pesquisador em Gestão do Esporte especializado em marketing esportivo.


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