Terminou no último final de semana o Campeonato Paulista de 2019. As semifinais e finais foram um sucesso de público e renda, principalmente devido aos quatro grandes disputarem as duas vagas para final.
Apesar de termos os últimos seis jogos com casa cheia, no geral houve quase uma estabilidade de público pagante, aumento de renda bruta e queda na taxa de ocupação no Paulistão 2019. O campeonato deste ano teve as seguintes médias:
O principal motivo pelo incremento foram os exatamente os seis jogos finais. Entre as semifinais e finais tivemos médias de padrão europeu, conforme abaixo:
Até o final das quartas de final as médias de 2019 estavam levemente inferiores ao ano passado. Portanto, o que salvou o campeonato foram os seis clássicos finais. Pensando no produto a médio e longo prazo, não é recomendável que essa situação permaneça sem mudanças, pois se criará uma dependência muito grande dos clássicos nas fases finais.
O principal motivo da queda está ligado aos clubes do interior. Os jogos entre os doze times do interior apresentaram queda de 17% de público pagante, 33% de taxa de ocupação e aumento de 8% em renda bruta
Um ponto muito importante a se observar são os jogos que os times do interior recebem os grandes. Pelo segundo ano consecutivo houve queda em todos as médias, conforme podemos ver abaixo:
Os times do interior têm adotado a estratégia de praticar preços de ingressos por volta de 140% mais caros nos jogos contra os times grandes em comparação aos jogos entre si. Quando se avalia a renda líquida, fica clara a estratégia geral, onde os times do interior praticamente abrem mão da receita com bilheteria nos jogos de menos apelo e somente conseguem faturamento líquido significativo quando recebem um dos quatro grandes em seus respectivos estádios.
Os dados acima demonstram que os times do interior, ao contrário do senso comum, não estão dependentes dos jogos contra os quatro grandes, mas sim das cotas de participação distribuídas pela Federação Paulista de Futebol.
Os dados históricos do comportamento do torcedor brasileiro permanecem inalterados. No estudo “É disso que o povo gosta” (Golden Goal, 2007) já foi constatado que o torcedor dá muito mais valor para os jogos finais, a partir das oitavas de final. O estudo tem como base os campeonatos brasileiros de 1971 a 2002 e demonstra que a média de público só acima de 40 mil pagantes nas fases eliminatórias. Portanto, em poucos jogos se obtém grandes públicos, o que acaba distorcendo a média final.
Nos últimos três anos tanto no Campeonato Paulista como no Brasileiro da série A, a média de jogos com taxa de ocupação abaixo de 50% é em torno de 65%, sendo por apenas alguns times os responsáveis por levar grande número de torcedores. Caso essa situação não for trabalhada por todos os interessados, o filme continuará o mesmo, jogo que o torcedor vê valor ele comparece, caso contrário fica em casa.
Nas grandes ligas da Europa, bem como nos Estados Unidos, com uma visão de negócio mais desenvolvida, existe estratégias para buscar aumentar a taxa de ocupação em jogos que , teoricamente, podem ser de menor apelo. Esse deve ser o desafio a ser alcançado pelos gestores dos times e das federações e CBF.
Devido à essa situação, alguns questionamentos deveriam ser feitos aos gestores da Federação Paulista:
Como profissional de marketing esportivo e preocupado com a qualidade do produto, creio que as perguntas e as informações acima sirvam de provocação para os gestores da Federação Paulista e demais Federações Estaduais.
Questionar sempre será preciso.
Marcelo Paciello - Apaixonado por gestão e marketing esportivo. Mais de 10 anos como gestor de negócios, mestre e pesquisador em Gestão do Esporte especializado em marketing esportivo.
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