Na semana passada o Martin Fernanandez do globoesporte.com publicou uma notícia informando que, provavelmente não haverá parada do campeonato brasileiro durante a Copa América de 2020. Na sua posse, no novo presidente da CBF, Rogério Caboclo, prometeu que o Brasileirão seria interrompido nas datas-Fifa, períodos em que os clubes são obrigados a ceder seus jogadores para as seleções nacionais. Veja na matéria
Portanto, provavelmente teremos mais uma vez o Brasileirão com times desfalcados, com as atenções divididas do torcedor, além de mais uma vez os dirigentes reclamarem do calendário.
Assim que foi nomeada a nova diretoria da CBF eu tomei a liberdade de mostrar um estudo sobre o tema para um dos diretores, e um dos levantamentos que efetuei como comparativo foi o número de jogos dos times brasileiros em comparação aos times da Premiere League, La Liga e Série A. Esses são os quatro campeonatos entre as ligas mais competitivas do mundo com 20 equipes na primeira divisão. Segue abaixo o TOP 25 em número de jogos na última temporada:
|
Time |
Total |
1 |
Bahia |
75 |
2 |
Palmeiras |
74 |
3 |
Grêmio |
73 |
4 |
Corinthians |
72 |
5 |
Cruzeiro |
72 |
6 |
Flamengo |
67 |
7 |
Vasco |
67 |
8 |
Vitória |
67 |
9 |
Santos |
66 |
10 |
Athlético |
66 |
11 |
Fluminense |
65 |
12 |
Ceará |
65 |
13 |
São Paulo |
64 |
14 |
Atlético Mineiro |
64 |
15 |
Goiás |
64 |
16 |
Chealsea |
62 |
17 |
Botafogo |
62 |
18 |
Avaí |
62 |
19 |
Valencia |
61 |
20 |
Chapecoense |
61 |
21 |
Manchester City |
60 |
22 |
Barcelona |
60 |
23 |
Arsenal |
58 |
24 |
Sevilla |
58 |
25 |
Ponte Preta |
58 |
Como podemos observar, os 15 times que mais jogaram na última temporada foram brasileiros. Entre os 20 primeiros temos apenas dois times europeus e entre os 25 temos 5 europeus e 20 brasileiros.
Os dados acima demonstram quanto é necessário rever o número de jogos disputados em território brasileiro. O Bahia, caso se classificasse para a final da Copa Sulamericana, teria disputado 77 jogos. O Palmeiras, caso disputasse as finais da Copa do Brasil, Copa Libertadores e Mundial, teria disputado 80 jogos. O Grêmio poderia chegar a 79 jogos.
Por outro lado, o Manchester City, caso chegasse à final da Champions League, teria disputado 63 jogos, isso porque o time inglês foi à final da Copa da Liga Inglesa e da Copa da Inglaterra. O Barcelona, que também chegou à final da Copa da Espanha, teria disputado 61 jogos na temporada.
Excesso de jogos e treinos, somado a um calendário extenso, viagens longas, gramados ruins acabam levando ao atual cenário do futebol brasileiros:
- elenco inchado devido lesões
- custo mais elevado do elenco
- baixa intensidade dos jogos
- pouco tempo livre para treinar
- baixa qualidade dos jogos
- troca constante de treinadores
- sem parada para datas Fifa
- perda de interesse por parte do torcedor e patrocinadores
- menos dinheiro para o negócio com um todo
- maior dependência das cotas de TV
Como consequência, vemos manifestações como na entrevista do Vinícius Júnior “Em dois meses no Real Madrid, evoluí o que levaria um ano no Brasil. O treino é diferente. A maioria dos treinos lá é melhor do que o jogo aqui.” Dados científicos comprovam que quanto mairo númeor de treinos e jogos, mair o risco de lesões, o que impacta no desempenho coletivo e individual dos atletas na temporada - Declaração de Vinícius Jr.
Essa entrevista repercutiu bastante entre os especialistas, o que gerou uma bela reflexão do Leonardo Miranda, onde ele menciona que o abismo entre o futebol brasilerio e europeu é estrutural, tático e financeiro. “E o que estamos fazendo para mudar esse cenário? O que fazemos para melhorar nosso futebol? A resposta é um sonoro nada. Pelo contrário. A realidade que cada vez mais bate a porta tenta ser negada o tempo todo.”. O verdadeiro abismo entre o futebol brasileiro e o europeu
Falta ação, pensamento sistêmico e de longo prazo. Não adianta copiar modelos de fora, mas sim trazer o que faz sentido para o futebol brasileiro. Para isso é necessário que todos os envolvidos calcem as sandalhas da humildade, pois negar o óbvio, com o batido discurso do pentacampeonato mundial, celeiro de craques e torcedor apaixonado já não cola mais.
Apenas com o número de jogos acima, já é possível verificar que o que estamos observando ano após ano no futebol brasileiro é uma decadência, um abismo cada vez maior em comparação aos grandes centros do futebol mundial.
O pior cego é aquele que não quer ver.
Marcelo Paciello - Apaixonado por gestão e marketing esportivo. Mais de 10 anos como gestor de negócios, mestre e pesquisador em Gestão do Esporte especializado em marketing esportivo.
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