02/07/19

O pior cego é aquele que não quer ver

Na semana passada o Martin Fernanandez do globoesporte.com publicou uma notícia informando que, provavelmente não haverá parada do campeonato brasileiro durante a Copa América de 2020. Na sua posse, no novo presidente da CBF, Rogério Caboclo,  prometeu que o Brasileirão seria interrompido nas datas-Fifa, períodos em que os clubes são obrigados a ceder seus jogadores para as seleções nacionais. Veja na matéria

Portanto, provavelmente teremos mais uma vez o Brasileirão com times desfalcados, com as atenções divididas do torcedor, além de mais uma vez os dirigentes reclamarem do calendário.

Assim que foi nomeada a nova diretoria da CBF eu tomei a liberdade de mostrar um estudo sobre o tema para um dos diretores, e um dos levantamentos que efetuei como comparativo foi o número de jogos dos times brasileiros em comparação aos times da Premiere League, La Liga e Série A. Esses são os quatro campeonatos entre as ligas mais competitivas do mundo com 20 equipes na primeira divisão. Segue abaixo o TOP 25 em número de jogos na última temporada:

 

Time

Total

1

Bahia

75

2

Palmeiras

74

3

Grêmio

73

4

Corinthians

72

5

Cruzeiro

72

6

Flamengo

67

7

Vasco

67

8

Vitória

67

9

Santos

66

10

Athlético

66

11

Fluminense

65

12

Ceará

65

13

São Paulo

64

14

Atlético Mineiro

64

15

Goiás

64

16

Chealsea

62

17

Botafogo

62

18

Avaí

62

19

Valencia

61

20

Chapecoense

61

21

Manchester City

60

22

Barcelona

60

23

Arsenal

58

24

Sevilla

58

25

Ponte Preta

58

Como podemos observar, os 15 times que mais jogaram na última temporada foram brasileiros. Entre os 20 primeiros temos apenas dois times europeus e entre os 25 temos 5 europeus e 20 brasileiros.

Os dados acima demonstram quanto é necessário rever o número de jogos disputados em território brasileiro. O Bahia, caso se classificasse para a final da Copa Sulamericana, teria disputado 77 jogos. O Palmeiras, caso disputasse as finais da Copa do Brasil, Copa Libertadores e Mundial, teria disputado 80 jogos. O Grêmio poderia chegar a 79 jogos.

Por outro lado, o Manchester City, caso chegasse à final da Champions League, teria disputado 63 jogos, isso porque o time inglês foi à final da Copa da Liga Inglesa e da Copa da Inglaterra.  O Barcelona, que também chegou à final da Copa da Espanha, teria disputado 61 jogos na temporada.

Excesso de jogos e treinos, somado a um calendário extenso, viagens longas, gramados ruins acabam levando ao atual cenário do futebol brasileiros:

- elenco inchado devido lesões

- custo mais elevado do elenco

- baixa intensidade dos jogos

- pouco tempo livre para treinar

- baixa qualidade dos jogos

- troca constante de treinadores

- sem parada para datas Fifa

- perda de interesse por parte do torcedor e patrocinadores

- menos dinheiro para o negócio com um todo

- maior dependência das cotas de TV

Como consequência, vemos manifestações como na entrevista do Vinícius Júnior  “Em dois meses no Real Madrid, evoluí o que levaria um ano no Brasil. O treino é diferente. A maioria dos treinos lá é melhor do que o jogo aqui.” Dados científicos comprovam que quanto mairo númeor de treinos e jogos, mair o risco de lesões, o que impacta no desempenho coletivo e individual dos atletas na temporada - Declaração de Vinícius Jr.

Essa  entrevista repercutiu bastante entre os especialistas, o que gerou uma bela reflexão do Leonardo Miranda, onde ele menciona que o abismo entre o futebol brasilerio e europeu é estrutural, tático e financeiro. “E o que estamos fazendo para mudar esse cenário? O que fazemos para melhorar nosso futebol? A resposta é um sonoro nada. Pelo contrário. A realidade que cada vez mais bate a porta tenta ser negada o tempo todo.”. O verdadeiro abismo entre o futebol brasileiro e o europeu

Falta ação, pensamento sistêmico e de longo prazo. Não adianta copiar modelos de fora, mas sim trazer o que faz sentido para o futebol brasileiro. Para isso é necessário que todos os envolvidos calcem as sandalhas da humildade, pois negar o óbvio, com o batido discurso do pentacampeonato mundial, celeiro de craques e torcedor apaixonado já não cola mais.

Apenas com o número de jogos acima, já é possível verificar que o que estamos observando ano após ano no futebol brasileiro é uma decadência,  um abismo cada vez maior em comparação aos grandes centros do futebol mundial.

O pior cego é aquele que não quer ver.

Marcelo Paciello - Apaixonado por gestão e marketing esportivo. Mais de 10 anos como gestor de negócios, mestre e pesquisador em Gestão do Esporte especializado em marketing esportivo.


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