A desvalorização da posição de running back na NFL atualmente
Seis rodadas já se passaram, e os Steelers ainda esperam por Le’Veon Bell. Os running backs titulares de Niners, Jaguars, Eagles e Colts se lesionaram e pouco participaram das campanhas de seus times até aqui. E não podemos nos esquecer dos Redskins, que perderam Derrius Guice ainda na pré-temporada.
2018 vem sendo a temporada que instaura de fato um novo pensamento na NFL: running backs são importantes, mas a formação de um elenco começa por outro lado. Vamos falar mais sobre isso.
A posição de running back continua importante...
A importância de um jogo terrestre eficiente em um time de futebol americano é indiscutível. Foi assim nos primórdios do esporte quando os passes ainda nem eram permitidos. Foi assim nas décadas de 1980 e 1990, período visto como o mais importante para os RBs. E continua no século XXI. De fato, a NFL que vemos atualmente é baseada em ataques verticais principalmente, e os quarterbacks são as peças mais importantes. Contudo, os running backs ainda são parte fundamental em controlar o relógio, abrir a secundária adversária e fazer o trabalho pesado do ataque.
Uma equipe com um jogo terrestre eficiente funciona melhor. O QB não precisa tentar 50 passes por partida (certo, Andrew Luck?). Fica mais fácil controlar a posse de bola e descansar seus defensores. E os espaços começam a aparecer na secundária oponente.
Veja bem como é simples: se o running back está conseguindo ganhar boas jardas em todas as corridas, é sinal que o front seven (grupo de sete jogadores de defesa, formado pela linha defensiva e linebackers) vem sendo dominado. Quando isso acontece, essa defesa consequentemente precisa do apoio dos defensive backs para parar o ataque corrido que está funcionando. Assim sendo, os safeties encurtam a distância para a linha de scrimmage e aumentam o espaço em profundidade. Quarterbacks e wide receivers agradecem.
Ainda sobre a importância de um jogo corrido eficiente, tenha em mente que 32 vezes um time teve seu RB com 100/+ jardas terrestres em uma partida em 2018. Dessas, eles venceram em 26 ocasiões.
...Ela só está perdendo valor
A posição de running back ainda é de suma importância no futebol americano, contudo, vem perdendo valor. Isso pois corredores pouco badalados têm jogado muito bem nos últimos anos, igualando a produção dos mais badalados, os quais receberam um grande investimento.
Você não consegue substituir um quarterback titular por outro “de quarta rodada” da noite pro dia. E o mesmo pode ser dito, claro que com maior margem para exceções, para os pass rushers. Estamos falando de funções que justificam altíssimas escolhas de draft, contratos gigantescos e coisas do tipo, na vasta maioria dos casos. Infelizmente, as últimas temporadas mostram que essa tendência não acontece para os running backs.
Quem foi o vice-líder de jardas corridas da NFL em 2016? Jordan Howard, dos Bears, recrutado como 150ª escolha geral do Draft 2016. Qual jogador recebeu o prêmio de Calouro Ofensivo do Ano na temporada passada? O RB Alvin Kamara, escolha de terceira rodada dos Saints há um ano. E qual corredor liderou a liga em jardas no ano passado? Kareem Hunt, o qual foi selecionado 19 escolhas abaixo de Kamara.
Ademais, Isaiah Crowell tem sido um dos principais nomes dos Jets nas últimas partidas. Matt Breida, com a lesão de McKinnon nos 49ers, foi uma grata surpresa para o time. James Conner vem tendo alta produção como substituto de Le’Veon Bell em Pittsburgh. Chris Carson é o running back nº 1 em Seattle. Enfim, nenhum desses corredores foi recrutado acima da terceira rodada, pelo contrário.
Colocando os pingos nos is
Running backs são cruciais no futebol americano e exitem aqueles que são melhores que outros. O que temos visto, por exemplo, com Todd Gurley, Saquon Barkley e Melvin Gordon neste ano é algo histórico. E, verdade seja dita, todos esses nomes foram frutos de um alto – e certeiro – investimento.
Recrutar um ótimo running back, tendo um quarterback, pass rusher e bloqueador, sólidos no elenco, é o ideal. Aliás, é uma das etapas para construir uma equipe campeã. O problema é quando um time opta por um corredor nas primeiras escolhas sem ter um líder realmente confiável under center. Algo como está acontecendo com os Giants, que recrutaram Barkley na segunda escolha geral, mas tem visto Eli Manning cada vez mais improdutivo.
O que não pode acontecer também é uma franquia dar um grande contrato a um running back apenas “pela teoria”, visto o quanto as lesões afetam essa posição. Os 49ers sentiram isso na pela com o contrato de quatro anos, US$ 30 milhões articulado com Jerrick McKinnon. O RB está fora da temporada com uma contusão no joelho. Seu substituto (Matt Breida) vem jogando muito bem e receberá apenas US$ 555.000 em 2018.
Por fim, é no mínimo questionável que um elenco em reformulação, sem escolha de segunda rodada, recrute um running back na 27ª posição geral no Draft 2018. Estamos de acordo, Seahawks? Ainda mais em uma classe que se caracterizava pela presença de corredores interessantes para as rodadas intermediárias. A menos que Rashaad Penny seja o RB titular de Seattle nos próximos oito anos, a decisão da equipe terá sido equivocada.
Selecionar um quarterback em primeira rodada é uma coisa. Selecionar um running back em primeira rodada é outra, com peso completamente distinto. As últimas temporadas da NFL têm mostrado que a posição de RB está cada vez mais substituível. Certamente que “nada paga” um excelente e sempre confiável corredor no backfield. Todavia, é preciso ter a convicção de que o que está em torno deste running back está acertado para que essa opção entre em cena.
Em outras palavras, um time campeão não começa pelo running back. Não na era atravessada pela NFL atualmente – e 2018 vem deixando isso bem claro.
Caio Miari Santos, 22 anos, jornalista e apaixonado por esportes, enfatizando os americanos, principalmente o futebol americano. É também fundador do Shotgun, no qual produz, apresenta e edita os podcasts do Rádio Shotgun! Contribui semanalmente com um texto sobre a bola oval para a THE360.
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