Com o início dos campeonatos estaduais voltaram as velhas polêmicas sobre como solucionar o decrescente apelo dos estaduais, a luta entre os interesses dos clubes x federações, o preço dos ingressos e o excesso de jogos.
Referente à questão do decrescente apelo dos estaduais, é necessário entender a real importância para todas as partes interessadas: times, torcedores, TV e patrocinadores. Não se pode olhar de uma forma simplista, apenas reduzindo o tamanho do torneio.
Qualquer solução demanda uma profunda reflexão. Para isso todas as partes interessadas deveriam entrar em consenso sabendo de antemão que deverão estar abertos para ceder algo em troca de um acordo mais interessante para todos.
O que já é notório é que o atual modelo se esgotou e teremos mudanças à partir de 2020, quando serão renovados os contratos de TV dos estaduais. A atual detentora dos direitos de transmissão já sinalizou que os estaduais não são rentáveis e que mudanças deverão ser adotadas (veja no texto de Rodrigo Mattos).
Algumas perguntas que deveriam ser respondidas referente aos dirigentes, torcedores, mídia e patrocinadores dos times que não jogam séries A, B, C e D nacional são as seguintes:
- Como manter um calendário de 9 a 10 meses para todos os times profissionais do Brasil?
- Como fazer campeonatos atrativos para todas as partes interessadas (times, torcedores, TV e patrocinadores)?
- Quais seriam as opções em termos de tamanho de campeonatos, fórmula de disputa que seriam atrativos para todas as partes interessadas?
- É possível rever o tamanho, a fórmula de disputa e o sistema de acesso e descenso das séries A, B, C e D nacional?
Na minha pesquisa de mestrado (acesse aqui) perguntei aos entrevistados quais os campeonatos que os torcedores preferiam para ir ao estádio, e o resultado foi o seguinte:
1) Copa Libertadores da América
2) Campeonato Brasileiro
3) Copa do Brasil
4) Copa Sulamericana
5) Campeonatos Estaduais
6) Campeonatos Regionais (Ex: Copa do Nordeste)
A grande maioria dos respondentes eram torcedores de times da Série A, portanto é bem provável que, se tivéssemos uma pesquisa apenas com torcedores de times da Série B, C, D e estaduais, os resultados seriam outros.
Baseado nos resultados da pesquisa é possível chegar às seguintes conclusões:
- O comportamento do torcedor brasileiro continua mantendo alta correlação com os resultados da pesquisa em termos de comparecimento de público nos estádios. Jogos grandes atraem público e jogos pequenos afastam público;
- No Campeonato Paulista, considerado o mais rico do país, a média de público dos times do interior que mandaram jogos contra os 4 grandes em seus respectivos estádios não conseguem mais do que 50% de taxa de ocupação, não atraindo mais do que 10 mil pagantes.
Um exemplo de como uma pesquisa de opinião com o torcedor dá resultado é a Copa do Nordeste. Após pesquisa efetuada em 2018, algumas implementações começaram a surtir resultados em termos de presença de público como os times grandes do Nordeste participarem de todas as edições independente da classificação, mais jogos na primeira fase e mais jogos aos finais de semana.
O total de público pagante e renda bruta na rodada 1 da Copa do Nordeste de 2019 é superior às rodadas 1 e 2 da edição do ano passado.
Flamengo e São Paulo estão fazendo um trabalho de precificação dinâmica, baseado em diferentes variáveis para determinar o preço do ingresso para cada tipificação de partida. Internacional e Corinthians fizeram parcerias com universidades com esse mesmo propósito. Esse tipo de estudo também é baseado no comportamento do torcedor. A precificação dinâmica tem como objetivo aumentar a presença de público ou rentabilidade.
Os dados acima demonstram que o torcedor percebe o valor de cada produto ofertado, sabendo exatamente onde é valido pagar pelo que vale o jogo. Por outro lado, fica claro que sem uma estratégia de marketing bem definida, o torcedor não vai ao estádio nem quando o preço é muito baixo. Um belo exemplo são as ações da Formula E visando atrair audiência e investimento (Fórmula-E pede passagem à Fórmula-).
Estádio cheio valoriza o produto, desperta interesse dos torcedores em comparecer aos jogos, afeta positivamente o espetáculo como um todo, bem como o desempenho dos jogadores em campo. Por outro lado, estádio vazio desvaloriza o produto, não desperta o interesse do torcedor em comparecer aos jogos, afetando negativamente na imagem do espetáculo e do desempenho dos jogadores.
Em breve corre-se o risco de que o futebol se transforme em um produto consumido apenas por gerações mais velhas, sem atrativos para as novas gerações, algo que já está ocorrendo com o Beisebol nos Estados Unidos.
De acordo com o livro Marketing 4.0 (Kotler, Kartajaya e Setiawan), os jovens são grande influenciadores, definidores de tendência e agentes de mudança da cultura pop para gerações. O esporte faz parte dessa cultura. O produto atualmente ofertado no Brasil está atraindo as novas gerações?
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Até 1996 Silvio Santos tinha um programa chamado "Show de Calouros". Ao final de cada apresentação dos calouros o apresentador perguntava aos jurados "Quanto vale o show?". Me lembro quando o calouro era ruim a jurada Aracy de Almeida falava: “Leva 500 mango que tá bão!”
Era a diversão de uma geração assistir aos jurados e aos calouros. Essa geração foi envelhecendo e a nova geração quase não assiste mais ao programa Silvio Santos. O futebol brasileiro caminha a passos firmes para o mesmo destino da audiência de Silvio Santos.
Devido ao atual baixo nível dos calouros e dos dirigentes do futebol brasileiro e a falta de perspectiva de mudança, a pergunta que fica no ar é a seguinte:
Quanto vale o show no futebol brasileiro?
Marcelo Paciello - Apaixonado por gestão e marketing esportivo. Mais de 10 anos como gestor de negócios, mestre e pesquisador em Gestão do Esporte especializado em marketing esportivo.
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