13/02/19

A Rua Javari e o Stradivarius

Domingo passado fui à Rua Javari assistir ao Dérbi dos Imigrantes, Juventus e Portuguesa pela série A2 do Campeonato Paulista. O jogo tem uma carga histórica devido à importância e representatividade das duas camisas para as colônias portuguesas e italianas da cidade de São Paulo.

Ir a um jogo na Rua Javari é uma viagem no tempo, voltando a um ambiente que praticamente não existe mais nas cidades grandes, onde as novas arenas foram construídas. Com mais de 40 anos frequentando estádios, ir a um jogo como o do domingo passado remete à memória afetiva dos apaixonados pelo futebol que foram iniciados em estádios nesse tipo de ambiente.

Por morar num bairro próximo à Mooca, meu pai nos levou várias vezes a jogos na Rua Javari nos anos 70. Assisti Juventus x Marília, Juventus x Velo Clube entre outros. Para mim e meus irmãos era uma grande festa. Ver os jogadores bem de perto, escutar o barulho dos chutes na bola como se estivéssemos dentro do campo, vibrar com os gols a metros de distância, mesmo não sendo torcedor do Moleque Travesso.

Devido ao Juventus ser considerado por muitos o segundo time, somado à uma memória afetiva do futebol do passado, a identidade de um time de bairro, a resistência dos torcedores juventinos contra o ‘futebol moderno” e o perfil de grande parte da torcida ser de senhores aposentados, fazem desta experiência algo imperdível para quem ama futebol.

Ir a um jogo do Juventus na Rua Javari tem uma identidade própria, que mesmo quem nunca foi a estádio sabe que tipo de experiência os torcedores irão vivenciar. Parar o carro nas ruelas com casas antigas da Mooca, pegar a fila única para entrar cercados de bares com churrasquinhos no espeto e cerveja, comprar cannolis e amendoim no canudinho de papel, ficar em arquibancadas de concreto, conversar com os exigentes torcedores, ver torcedores de vários times se divertindo, cantar gritos de resistência da Ju Jovem entre outros, é pura diversão.

Assistir a esse tipo de evento esportivo que tem um marcar própria, faz com que o torcedor saia do estádio com o sentimento de “ter até jogo”, mas o que vale mesmo é a experiência. Um evento deste tipo demonstra que existe público para vários tipos de eventos esportivos, basta as organizações entenderem o que seu público gosta de consumir e buscar ofertar experiências que são valorizadas por diferentes tipos de torcedores.

Ao longo do último mês de janeiro, a cidade de Cremona isolou toda a região ao redor do auditório da cidade para produzir um banco de dados que armazena todos os sons possíveis que violinos Stradivarius podem produzir. Os sons no banco de dados poderão ser manipulados com software para produzir novas gravações quando o tom dos instrumentos originais se degradar. De acordo com o coordenador do projeto, os músicos do futuro serão capazes de gravar uma sonata com um instrumento que não funcionará mais. (cidade italiana se mantém em silêncio para salvar som dos stradivarius)

Assistir a um jogo na Rua Javari ainda está disponível ao vivo para quem quiser apreciar esta experiência, sem a necessidade de recorrer a recursos virtuais e digitais.  Ir a um jogo de futebol é um momento mágico, que remete à nossas memórias afetivas, ainda mais para quem foi iniciado nos estádios num momento que não existe mais. A modernidade trouxe uma série de confortos e novos recursos que não tem como rejeitar mas, para muitos torcedores, ir à Rua Javari é como uma sonata tocada por um Stradivarius do século XVII. Desfrutem!!!

 

 

 

 

 

 

Marcelo Paciello - Apaixonado por gestão e marketing esportivo. Mais de 10 anos como gestor de negócios, mestre e pesquisador em Gestão do Esporte especializado em marketing esportivo.


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