19/02/19

O Dono e os Chefs

Após o treinador do São Paulo André Jardine perder o cargo no São Paulo na semana passada, gostaria de compartilhar um post que escrevi há quase 2 anos e que infelizmente continua se repetindo no futebol brasileiro.

 

Para tentar ilustrar de uma forma lúdica as consequências do repetido comportamento inaceitável dos gestores esportivos, convido o leitor a ler a seguinte história:

 

O Dono e os Chefs

 

Uma churrascaria acaba de trocar de dono no início de dezembro e, como o negócio não ia bem, o dono resolveu trocar de churrasqueiro, pois os clientes estavam reclamando da qualidade da comida, tanto que as vendas estavam baixas recentemente.

 

O novo mestre churrasqueiro, juntamente com o dono, estavam com várias ideias e decidiram aumentar a variedade de carnes no cardápio. No começo do ano a curiosidade dos clientes fez com que aumentassem as vendas mas, após 3 meses, os clientes já perceberam que a qualidade e a expectativa com o novo churrasqueiro ficaram aquém do esperado e novamente as vendas diminuíram.

 

O dono descobriu os motivos e teve uma nova ideia, demitiu o mestre churrasqueiro, trazendo um especialista em peixe, para criar um fato novo. O novo chef, devido a sua especialidade, pediu para alterar o cardápio, pois ele sabia fazer muito bem peixe. 

 

Novamente a frequência de clientes aumentou pela novas expectativas mas, como consequência, muita carne nobre foi deixada de lado e começou a estragar, além do que, os pratos de carne que ficaram no cardápio não eram bem feitos devido à falta de especialidade do novo chef. Para completar o novo chef pediu para fazer reformas na cozinha para poder fazer seus pratos de acordo com suas técnicas.

 

Passado mais seis meses os resultados se repetiram.  A qualidade e a expectativa com o novo chef ficaram aquém do esperado e novamente as vendas diminuíram. Preocupado com as críticas dos clientes o dono demitiu o atual chef e resolveu transformar a casa em cantina italiana, pois era um sucesso na sua cidade.

 

Chegou o novo chef e as mesmas situação se repetiram. Devido a especialidade em cozinha italiana o novo chef tirou do cardápio os peixes e as carnes. Novamente a frequência de clientes aumentou pela novas expectativas mas, além das carnes, os peixes também ficaram de lado e começou a estragar. Além disso o novo chef pediu para reformar novamente a cozinha para adequar às suas necessidades, mas o dono exigiu que as carnes e os peixes ficassem no cardápio, pois ele tinha investido muito e tinha que fazer dinheiro com esses ingredientes.

 

O atual chef teve que aceitar, mas tanto os pratos de carne como de peixe não ficavam bons, pois não era sua especialidade, tanto que, após mais seis meses, o chef pediu demissão pois não tinha como conviver com essa pressão.

 

Desesperado o dono atendeu às pressões dos clientes e contratou novamente o mestre churrasqueiro do antigo proprietário. Quando ele chegou no restaurante ele viu que a carne não era da mesma qualidade, as estruturas estavam totalmente alteradas, além de ter que fazer massas e peixes, que não eram sua especialidade. 

 

Após um mês de trabalho os clientes começaram a criticar novamente, pois a comida não era a mesma, os ingredientes tinham mudado totalmente e o chef pediu mais tempo para poder colocar a casa em ordem.

 

Os chefs que foram demitidos, com medo de perder seus empregos novamente, ao invés de exigir condições e tempo de trabalho, por segurança, começaram a servir apenas o comercial com opções de carne e frango. De uma hora para outra, todos os restaurantes da cidade começaram a ofertar comercial, e os clientes não se sentiam atraídos por nenhum restaurante, já que todos serviam os mesmos pratos, com pouca variedade de opções e de sabor.

 

Após dois anos, o dono vendeu o negócio porque ele não conseguiu dar resultado e veio um novo dono, cheio de ideias novas e resolveu montar um restaurante japonês.......

 

 

Moral da história:

 

Em quase 100% dos times brasileiros é assim que é gerido o departamento de futebol, onde se busca o resultado sem ter uma ideia clara, uma visão, uma missão, uma estratégia de longo prazo. Como consequência temos esse ciclo vicioso que impera no futebol brasileiro, principalmente por falta de visão de negócio, profissionalismo e gestão.

 

A pergunta que fica no ar é a seguinte:

 

Como os times brasileiros vão conseguir resultados sustentáveis, esportiva e financeiramente, se são geridos em sua grande maioria semelhantemente ao restaurante da história acima?

 

 

Marcelo Paciello - Apaixonado por gestão e marketing esportivo. Mais de 10 anos como gestor de negócios, mestre e pesquisador em Gestão do Esporte especializado em marketing esportivo.


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