Na semana passada o Cesar Grafietti do site No Ângulo efetuou uma análise referente aos resultados operacionais de alguns estádios/arenas de times europeus. (Estadios Na Europa - modelos diferentes, mas sempre com lucro).
Como costumo coletar dados de público e renda do Campeonato Brasileiro, baseado no artigo acima citado, pretendo demonstrar neste post alguns pontos interessantes do faturamento com bilheteria, custos e estratégias dos times que tiveram destaque positivo e negativo no Brasileirão 2018.
Como costuma ser repetir em cada temporada, o campeão brasileiro também é o campeão de público e renda. Em 2018 não foi diferente. O Palmeiras teve maior renda bruta do campeonato, com R$ 37,1 milhões e também a maior renda líquida do campeonato, R$ 22,9 milhões. Com base nesses dois dados, é possível chegar ao custo total, somando despesas fixas do Allianz Parque além das taxas. O custo total dos 19 jogos do Palmeiras foi de R$ 14,2 milhões. Quatro dos 19 jogos foram jogados do Pacaembu.
O time com segunda maior renda bruta foi o Corinthians, com R$ R$ 25,4 milhões e o terceiro em renda líquida de R$ 15,3 milhões. O custo total dos 19 jogos foi de R$ 10,1 milhões. O Flamengo fechou o TOP 3 com renda bruta praticamente igual ao Corinthians, mas com renda líquida de R$ 3,4 milhões. O custo de jogar no Maracanã foi de R$ 20,1 milhões.
Esses dados demonstram quanto é caro jogar no Maracanã atualmente. Um estádio que foi transformado em Arena para a Copa do Mundo, mas é possível chegar à conclusão que não foi pensado na lucratividade e na sustentabilidade do modelo de negócio, tanto que atualmente estão revendo a concessão pois, no modelo atual, o negócio não está sendo viável para nenhuma das partes interessadas: concessionária, governo do estado e clubes.
Devido ao alto custo para jogar no Maracanã o Flamengo adotou a estratégia de casa cheia com atmosfera totalmente à favor do time ao invés de obter maior faturamento com bilheteria. Já o modelo adotado pelo Corinthians, que tem que pagar ao consórcio pela construção da sua arena, demonstra quanto tempo ainda o clube vai necessitar de abrir mão das receitas com bilheteria.
No topo de arrecadação com bilheteria, destaque para o São Paulo, que mesmo faturando R$ 2,2 milhões a menos que Corinthians e Flamengo, conseguiu renda líquida de R$ 1,2 milhões a mais que o Timão e R$ 13,1 milhões a mais que o Flamengo. Um dos motivos foi o modelo de precificação dinâmica adotado pelo Tricolor além do custo de um estádio mais antigo e próprio, R$ 6,6 milhões.
Outro destaque significativo foi o Ceará. O Vovô arrecadou apenas 33% do que o Flamengo arrecadou, e mesmo assim obteve renda liquida de R$ 1,5 milhões superior ao rubro negro. O custo total da Arena Castelão foi de R$ 4,3 milhões, 20% do custo do Maracanã.
Na outra ponta do ranking, destaque negativo para três equipes: América Mineiro, Botafogo e Fluminense. Os três times tiveram arrecadação inferior ao custo total, literalmente pagaram para jogar em suas respectivas arenas.
Os mineiros tiveram prejuízo de R$ 1 milhão. Botafogo perdeu R$ 3,1 milhões e o Fluminense R$ 3,7 milhões em 19 jogos como mandante. O Vasco da Gama só conseguiu renda líquida de R$ 864 mil devido a dois jogos que foram disputados em Brasília, com renda líquida de R$ 950 mil na soma dos dois jogos. Caso o time cruzmaltino tivesse jogado no Rio de Janeiro essas duas partidas, provavelmente teria resultado negativo em renda líquida.
Os clubes cariocas estão com um grande desafio pela frente. A cidade do Rio de Janeiro possui duas arenas modernas mas caras, e por outro lado o Estádio de São Januário é antigo e com custo alto. Para os quatro grandes cariocas não seria interessante negociar parcerias conjuntas como Inter e Milan fazem com o San Siro?
Os dados acima demonstram quais os times estão com seus modelos de negócios bem alinhados e os times que precisam mudar o atual cenário caso não queiram perder dinheiro mas, pelo contrário, precisam aumentar suas receitas.
Independente dos times, o grande desafio é manter os equipamentos esportivos com taxa de ocupação mais elevada do que a média atual do campeonato, cerca de 42%, além de buscar soluções com camarotes e outros eventos. (DJ, barbearia, piscina e até futebol nos camarotes dos estádios)
Para se chegar à mais alternativas de receitas é necessário profissionais competentes, visão de longo prazo e focar cada vez mais num modelo de negócio além das quatro linhas e dos 90 minutos. O foco tem que ser no torcedor, com cada vez mais atrativos para diferentes públicos alvos.
Marcelo Paciello - Apaixonado por gestão e marketing esportivo. Mais de 10 anos como gestor de negócios, mestre e pesquisador em Gestão do Esporte especializado em marketing esportivo.
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