Estamos entrando nos dois últimos meses da temporada 2019 do futebol brasileiro e está chegando a hora do planejamento do ano seguinte começar a ser implementando. No final do ano passado fiz uma análise de quais deveriam ser as premissas para se planejar a montagem do elenco e a escolha do treinador para a próximo temporada. (análise da gestão dos principais times da temporada 2018)
Por muito tempo se falou de forma muito positiva sobre o modelo de gestão do Barcelona, o excelente tabalho na base, o modelo de jogo, o perfil dos jogadores , etc. Os resultados recentes, bem como o futebol apresentado pelo time catalão nas últimas temporadas, estão demonstrando que muito do modelo que serve até hoje como referência já não estão tão alinhados com o que tínhamos em mente até pouco tempo atrás.
Baseado nesse fato, me veio a seguinte questão:
Os treinadores são os principais responsáveis pelas hegemonias dos times ou o modelo de gestão tem maior influência do que os treinadores?
Ao analisarmos primeiramente os grandes clubes europeus é possível verificar os seguintes dados:
- Manchester United : até 1986 o time inglês havia conquistado 7 títulos nacionais, após a chegada de Alex Ferguson, o time conquistou 12 títulos ingleses, além de várias Copas nacionais e internacionais. A Era Ferguson é a mais vitoriosa da história dos Red Devils;
- Arsenal: os Gunners já eram uma das equipes mais vitoriosas da Inglaterra, mas com a chegada de Arsene Wenger, além de várias conquistas, principalmente das Copas nacionais, o estilo de jogo e a filosofia implementada pelo francês revolucionaram o time do norte de Londres;
- Chealsea: após o investimento dos russos o time subiu de patamar, mas foi com o português José Mourinho que os Blues se transformaram num dos maiores times da Inglaterra;
- Liverpool: os Reds eram os maiores vencedores da Europa e da Inglaterra até os anos 90, sua tradição e força nunca se enfraqueceram, mas as conquistas foram ficando mais raras até a chegada do Jurgen Klopp, que está transformando o Liverpool novamente numa máquina de ganhar títulos.
Barcelona: os Culés já eram grandes em território nacional, e teve as primeiras impressões digitais do atual modelo com os holandeses Rinus Michels nos anos 70, Johan Cruyff, que comandou a equipe blaugrana de 88 a 96, Van Gaal no final dos 90, Frank Rijkaard nos anos 2000, mas foi com a marca de Pep Guardiola que se transformaram num time global, com um estilo de jogo revolucionário. Nunca o Barcelona conquistou tantos títulos e corações dos apaixonados pelo futebol bem jogado do que sob a batuta do Gardiola;
Real Madrid: Os Merengues, um dos maiores times do Mundo, têm vários treinadores marcantes na sua história. Miguel Muñoz de 60 a 74, o holandês Leo Beenhakker nos anos 80, Vicente Del Bosque no final dos anos 90, José Mourinho, Carlo Ancelotti e Zidane na década de 2010, todos deixaram suas marcas com um caminhão de títulos para a história.
Tanto o Manchester como o Arsenal, após os longos períodos dos seus grandes treinadores, até o momento não conseguiram voltar ao trilho das conquistas. Por outro lado, Pep Guardiola conseguiu repetir sucesso tanto no Bayer de Munique como no Manchester City. Mourinho teve êxito na Inter de Milão e Klopp veio para o Livervpool após recuperar o prestígio do Borússia Dortmund.
Fazendo uma análise similar na América do Sul, podemos observar fenômenos similares:
Santos: um dos maiores times do mundo teve no seu auge o comando de um único treinador, Lula, que ficou 11 anos consecutivos no comando, além de Antoninho Fernandes, que comandou a máquina santista por 4 anos, como sucessor de Lula;
Flamengo: o mágico time de Zico e companhia teve seu pico no início da década de 80, que foi formatado por Cládio Coutinho entre 78 e 80 e foi elevado ao seu auge por Paulo Cesar Carpegiani de 81 a 83;
Palmeiras: desde o final da década de 50 e durante as duas primeiras academias o Verdão foi comandado por Osvaldo Brandão por 3 anos no final dos anos 50 e por mais 4 anos no início dos anos 70. Mario Travalgini comandou o Palmeiras por 6 temporadas nos anos 60. Nos anos 90 a terceira academia foi comandada por Vanderlei Luxemburgo e depois Luis Felipe Scolari levou o Palmeiras para conquistas internacionais;
São Paulo: o tricolor paulista teve suas grandes glórias nas mãos de Telê Santana, comandando o time por 7 anos. Depois da passagem do mestre, Muricy Ramalho também deixou sua marca nos anos 2000 nos seus 4 anos de comando;
Corinthians: o Timão teve sua década mágica nos últimos 10 anos com Mano Menzes, Tite e Fabio Carille no comando. Mais do que os nomes, o alvi negro criou um modelo de jogo onde os treinadores e jogadores se encaixam no sistema.
Botafogo: o mágico time de Garrincha foi formatado por João Saldanha por 2 anos no final dos anos 50 e também pelo velho lobo Zagallo por 3 anos no final dos anos 60;
Grêmio: Carlos Froner nos anos 60, Valdir Espinosa nos anos 80, Luis Felipe Scolari nos anos 90 e Renato Portaluppi estão na história do Imortal com suas conquistas e estilos de jogo marcantes;
River Plate: Daniel Passarella e Ramon Diaz na década de 90 e Marcelo Gallardo com sua hegemonia nas Copas, há 5 anos no coma os Milionários num período emblemático para o time de Nuñez;
Boca Juniors: Carlos Bianchi colocou os Xeneizes em outro patamar com sua série de conquistas nacionais e internacionais nos 6 anos comandando o time do Boca.
Vanderlei Luxembrugo teve grande sucesso no Corinthians, Santos e Cruzeiro. Scolari marcou história no Grêmio e no Palmeiras. Mano Menezes teve muito êxito no Grêmio e no Cruzeiro. Bianchi teve muito êxito no Velez Sarsfield antes de ir para o Boca. Muricy Ramalho foi muito exitoso no Internacional e Fluminense.
Essa breve análise nos leva a uma possível conclusão que, muito mais do que um modelo de jogo pré definido onde os treinadores sejam diferentes mas com perfil similar, a maior probabilidade de sucesso está na qualidade do treinador.
O Flamengo de Jorge Jesus, o Santos de Sampaolli, o Palmeiras de Scolari, o Cruzeiro de Mano Menezes, o Grêmio de Renato comprovam esses dados. O Corinthians é o único time que aparentemente conseguiu manter o modelo de jogo trocando treinadores, mas procurando quem se encaixasse no sistema.
Portanto, muito mais do que a escolha de jogadores e sistemas de jogo, a escolha de um treinador e a sua manutanção por mais tempo possível é um provável diferencial que transforme um time visando uma hegemonia de conquistas por vários anos consecutivos.
Marcelo Paciello - Apaixonado por gestão e marketing esportivo. Mais de 10 anos como gestor de negócios, mestre e pesquisador em Gestão do Esporte especializado em marketing esportivo.
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