06/12/18

Análise da gestão dos principais times de futebol em 2018

No último final de semana praticamente se encerrou a temporada do futebol brasileiro. O único time que ainda estará em atividade será o Atlético Paranaense, que disputará as finais da Copa Sul-Americana contra o Atlético Junior Barranquilla.

Final de temporada é o momento de avaliar os erros e acertos, o que não foi bem executado, as melhorias e correções de rumo. Também é hora de começar a execução do planejamento para a próxima temporada.

Como já escrevi na minha estreia neste espaço, gestão pode ser definida como o atingimento de metas e objetivos com recursos limitados com e através das pessoas. A meta do trabalho gerencial é fazer com que as pessoas executem o que o gestor determina de uma forma eficiente.( Visite o texto)

Partindo do pressuposto que uma boa gestão é fazer com que as pessoas executem o que o gestor determina de uma forma eficiente, efetuarei uma análise à partir do potencial de conquistas esportivas em 2018 tendo como base as seguintes premissas:

 - Faturamento de 2017

- Escolha ou manutenção do treinador para a temporada 2018

- Montagem ou manutenção do elenco para a temporada 2018

O que se espera de uma gestão responsável é que no final da temporada os dirigentes já tenham os orçamentos para o próximo ano ou no mínimo uma estimativa de receitas, tendo como base as principais fontes: direitos de transmissão, patrocínio, bilheteria / sócio torcedor, outras receitas com estádio. Essas fontes de receitas são recorrentes.

Receitas com venda de jogadores ou premiação por título ou classificação nas Copas são receitas extraordinárias. Em tese os clubes não poderiam contar com essas receitas para formatar o orçamento anual mas, infelizmente, a grande maioria dos clubes brasileiros continuam contando com venda de jogadores para fechar as contas anuais. Fiz uma análise dessa situação no último post. (Continuam Vendendo Nosso Mickey Mouse)

À partir do momento que o gestor do futebol já tenha orçamento anual aprovado / estimado, é hora de avaliar o desempenho esportivo na temporada que está se encerrando. O primeiro a ser avaliado é o trabalho do treinador, não apenas o resultado em campo, mas outras possíveis variáveis definidas no seu plano de metas, por exemplo: R$/ pontos, classificação final em comparação com o ano anterior, implementação de um modelo de jogo, gestão de grupo, utilização de garotos da base no elenco, otimização do elenco, entre outros.

A decisão sobre a manutenção do treinador para a próxima temporada deverá ser tomada com base em premissas claras como os exemplos acima. Caso a decisão seja pela manutenção do treinador, a próxima etapa é definir as metas para a nova temporada, que podem ser: disputar títulos, priorizar competições, classificar para a Libertadores, desenvolver o modelo de jogo, utilizar mais jogadores da base, se manter na atual divisão. Caso a decisão for trocar o treinador, o ideal é que seja contratado um substituto dentro do orçamento anual previsto bem como de acordo com as metas da próxima temporada.

A contratação de jogadores é a próxima etapa, tendo sempre como base o orçamento disponível, o modelo de jogo, o treinador que tenha perfil para atingir as metas da temporada.

Todo planejamento e execução deve ser feito durante o segundo semestre, buscando antecipar todas as renovações e contrações para que tudo esteja praticamente pronto para implementação no início da nova temporada.

Após essa explanação, que espero que tenha sido clara, segue a minha análise da gestão esportiva dos principais times do Brasil:

Palmeiras: maior faturamento com receita recorrente em 2017, começou a temporada com novo treinador, fez algumas reposições em posições carentes. Teve um primeiro semestre bom em termos de resultado mas com modelo de jogo ainda em formação, sendo vice campeão estadual. Após a parada da Copa optou por trocar de treinador, que implementou outro modelo de jogo. O novo e experiente treinador soube entender que seu modelo de jogo era compatível com as características do elenco, além de conseguir utilizar com eficiência todo o elenco na disputa das três competições do segundo semestre, conseguindo gerir o grupo de forma muito eficaz. O Palmeiras chegou às semifinais das Copas e conquistou o Campeonato Brasileiro. O atual treinador foi o único no biênio 17/18 que soube otimizar todos os recursos disponíveis. Foi um bom exemplo que, mesmo com excelente situação financeira, sem ser eficiente na gestão esportiva, não é possível assegurar bons resultados. A gestão em 2018 foi boa devido à saúde financeira a estrutura do time e qualidade de elenco, mas o novo treinador foi fundamental para que o desempenho fosse eficiente.

Flamengo: segundo maior faturamento com receita recorrente em 2017, começou a temporada com indefinições sobre o novo treinador, fez algumas reposições em posições carentes. Teve um primeiro semestre conturbado em termos de resultados e modelo de jogo, o que causou mudança de treinador. O novo treinador conseguiu implementar com eficiência o modelo de jogo, chegando a liderança do campeonato brasileiro até a rodada 16. Com a chegada das fases mais agudas das Copas o time caiu de desempenho no campeonato brasileiro e também foi eliminado nas Copas. Um dos possíveis motivos foi não ter um elenco homogêneo tecnicamente como o Palmeiras. Os resultados causaram troca de treinador. O time reagiu e terminou como vice campeão brasileiro. A troca de treinadores, bem como a inexperiência do segundo treinador da temporada pode ter gerado carências na montagem do elenco e problemas de gestão de pessoas, o que resultou em uma temporada abaixo do esperado.

Internacional: se houve um time eficaz na temporada, o exemplo do Internacional é o mais significativo. Com um time vindo da série B, manteve o treinador por toda a temporada, e mesmo com o nono faturamento de 2017, montou um elenco muito competitivo, soube trabalhar bem os momentos de oscilação e foi premiado com o terceiro lugar no Campeonato Brasileiro.

Grêmio: sexto maior faturamento com receita recorrente em 2017. O Imortal manteve praticamente todo o elenco campeão da Libertadores de 2017 bem como o treinador e também se reforçou para temporada. A estratégia do primeiro semestre foi perfeita, conquistando o estadual e a Recopa Sul-Americana. No segundo semestre o time priorizou as Copas, sendo eliminado na semifinal da Libertadores e nas quartas de final da Copa do Brasil. Devido ao elenco desequilibrado em termos de número e homogeneidade dos jogadores, além de contusões e queda de rendimento de jogadores importantes, terminando em quarto lugar no Campeonato Brasileiro. Como tem sido nos últimos anos, o Grêmio fez uma temporada eficiente.

São Paulo: quarto maior faturamento com receita recorrente em 2017. Começou a temporada com jogadores de referência na história tricolor na gestão do futebol. Manteve o treinador da temporada anterior, mas não trouxe jogadores para melhorar o rendimento da equipe. Os resultados levaram à troca de treinador, que foi muito eficaz nos resultados obtidos com um elenco reduzido e limitado em termos de qualidade e quantidade de jogadores. O time foi líder do campeonato brasileiro por 8 rodadas mas, devido às limitações do elenco, teve queda de rendimento no segundo turno, o que causou a demissão do treinador faltando cinco rodadas para o término do campeonato. O novo treinador, inexperiente no profissional, tentou mudar o modelo de jogo, o que não trouxe melhorias devido ao pouco tempo na função. Devido à essas mudanças em momento que considero inadequado, o São Paulo terminou em quinto colocado mas, devido às mudanças radicais em termos de perfil do treinador e pelo elenco disponível, considero que a gestão foi regular na temporada, mas poderia ter terminado em quarto lugar na classificação.

Corinthians: quinto maior faturamento com receita recorrente em 2017. Começou a temporada mantendo o treinador e a base do time campeão brasileiro da temporada anterior conquistando o campeonato estadual. Devido ao sucesso do treinador, surgiu interesse e posteriormente contratação do treinador por um time do exterior. A direção decidiu adotar a mesma medida anterior e efetivou no cargo seu assistente. Com saída de principais jogadores e também pela inexperiência do novo treinador os resultados foram abaixo do esperado e foi decidido nova troca de treinador. O terceiro treinador da temporada até conseguiu um improvável vice campeonato na Copa do Brasil, mas devido priorização deste campeonato, perdeu muitos pontos no Campeonato Brasileiro, o que fez com que o time corresse riscos de rebaixamento até as rodadas finais do campeonato. Devido à problemas financeiros, trocas de treinadores e saída de jogadores, apesar da conquista do título estadual, considero o desempenho da gestão abaixo do esperado.

Cruzeiro: terceiro maior faturamento com receita recorrente em 2017. A Raposa manteve praticamente todo o elenco campeão da Copa do Brasil de 2017 bem como o treinador e também se reforçou para temporada. Como o Grêmio, a estratégia do primeiro semestre foi perfeita, conquistando o estadual. No segundo semestre o time priorizou as Copas, sendo o campeão da Copa do Brasil e eliminado nas quartas de final da Libertadores. Devido ao elenco desequilibrado em termos de número e homogeneidade dos jogadores, terminou em oitavo colocado no campeonato brasileiro. Como nos últimos dois anos, o Cruzeiro fez uma temporada eficiente, mas pelo faturamento, poderia ter um melhor desempenho no campeonato brasileiro.

Atlético Mineiro e Atlético Paranaense tiveram gestão eficaz, pois seus faturamentos com receita recorrente não estão entre os maiores do Brasil e mesmo assim o Galo conseguiu a classificação para a Pré-Libertadores e o Furacão está na final da Copa Sul-Americana.

Por outro lado, Botafogo, Santos, Fluminense e Vasco da Gama deixaram a desejar em termos de gestão financeira e esportiva. Os quatro tradicionais times do Brasil precisam urgentemente se estruturar financeiramente, mesmo que abram mão de resultados esportivos a curto prazo, visando uma situação sustentável a médio e longo prazo, pois caso contrário correm sérios riscos de perderem cada vez mais atratividade e competitividade com relação ao seus rivais estaduais e nacionais.

Como diz o título de um dos livros de referência na gestão esportiva, a bola não entra por acaso. Podemos observar que ter uma situação financeira sustentável é importante, mas não é garantia de conquistas esportivas caso a gestão esportiva não for eficiente. Internacional e Grêmio são bons exemplos de uma gestão eficaz. 

Palmeiras e Cruzeiro foram eficientes em termos de gestão, pois com situação financeira sustentável foi possível dar condições para uma boa gestão esportiva, mas o Palmeiras deve a conquista ao seu treinador. Já o Cruzeiro, por ter o terceiro maior faturamento do ano anterior, poderia ser mais eficiente no campeonato brasileiro, mesmo priorizando as Copas. O São Paulo teve boa gestão até a decisão de trocar de treinador faltando cinco rodadas. Essa mudança pode custar caro em termos de resultados e desempenho no ano de 2019.

Corinthians e Flamengo ficaram aquém do esperado para times gigantes em termos de torcida. O rubro negro ficou aquém principalmente por causa da gestão esportiva, pois em termos de gestão financeira as condições são muito boas. O alvinegro, apesar de ter problemas financeiras, conseguiu ser eficaz esportivamente até a metade da temporada devido à excelente gestão esportiva nos últimos dez anos, mas o cenário para a próxima temporada ainda é de incerteza.

Voltando ao início do texto, a gestão deve ser avaliada pelo atingimento de metas e objetivos com recursos limitados e através das pessoas, portanto é importante que o torcedor comece a avaliar a gestão dos seus times não apenas por vitórias, mas sim na forma de como o time está sendo conduzido, se há uma direção clara em médio e longo prazo, e não apenas o curto prazo.

Marcelo Paciello - Apaixonado por gestão e marketing esportivo. Mais de 10 anos como gestor de negócios, mestre e pesquisador em Gestão do Esporte especializado em marketing esportivo.


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