Em nossa última coluna destacamos a necessidade de combinar êxito desportivo com equilíbrio financeiro, além de mostrar a relevância das vendas de atletas para os três principais clubes lusitanos, nomeadamente SL Benfica, Sporting CP e FC Porto. Nesse contexto, ressaltou-se que o SL Benfica tem sido o clube português mais bem-sucedido nos últimos anos, tanto no campo desportivo como no campo financeiro. Contudo, tão importante quanto analisar os resultados, com e sem transações de jogadores, é analisar as fontes de receitas operacionais recorrentes das organizações do desporto, pois são mais previsíveis e garantidas.
Como em qualquer setor competitivo, o ambiente no qual os clubes atuam possui papel primordial em relação ao potencial de receitas que podem obter, seja por meio da capacidade de organização e geração de receitas das entidades reguladoras, como UEFA e Conmebol, ou pela situação econômica do país ou região na qual o clube atua.
Para uma melhor exposição, realizaremos uma rápida análise da composição de receitas operacionais recorrentes (sem vendas de atletas) do SL Benfica, comparando-as com um clube brasileiro selecionado (SE Palmeiras). Nesse contexto, cabe relatar a ideia inicial de confrontar as receitas do Benfica (clube com maior torcida e maior receita operacional de Portugal) com Flamengo ou Corinthians (clubes de maiores torcidas e receitas do Brasil em 2016), mas as situações particulares desses dois clubes com seus estádios (mando itinerante ao longo de 2016 no caso do clube carioca e destinação das rendas de bilheterias para o fundo responsável pelo pagamento da Arena Corinthians no caso do clube paulista) tornariam as comparações menos fidedignas. Dessa forma, selecionou-se apenas SE Palmeiras, já que o clube também arrecada receitas expressivas no contexto do futebol brasileiro, participou da Copa Libertadores em 2016 como campeão nacional, sendo possível, assim, fazer um paralelo com a participação do Benfica na UEFA Champions League. Vejamos os dados selecionados para o comparativo:
Já para realizar a comparação entre Benfica e Palmeiras, utilizou-se a taxa de câmbio média de 2016 para a conversão de reais em euros (R$ 3,85 = € 1,00). Ressalta-se que, para comparar potenciais de receitas entre moedas diferentes o cálculo não é tão simples, devendo envolver outras variáveis, tais como custo de vida e rendimentos da população, mas, para tornar mais fácil o entendimento, adotou-se esse método mais simples, visto que ele serve à análise proposta.
Isto posto, temos a seguir a comparação entre as receitas operacionais sem considerar vendas de atletas de Benfica (época 2016/17) e Palmeiras (ano-calendário 2016):
Fonte: Sport Lisboa e Benfica - Futebol, SAD (Relatórios & Contas Época 2016/17); Sociedade Esportiva Palmeiras (Balanço Financeiro e Demonstração de Resultado 2016)
Do gráfico acima, percebe-se que em ambos os clubes a principal fonte de receitas é proveniente de broadcasting, seguido de rendimentos comerciais e matchday. Outra conclusão é sobre a grande diferença nos valores de broadcasting obtidos pelos dois clubes, destacando-se que, para fins de análise, estão agregados nesses valores os prêmios de participação e performance nos campeonatos que os clubes participam.
Nesse âmbito, é bastante significativa a diferença financeira obtida pela participação em uma competição como a UEFA Champions League, pois dos € 70,7 MM obtidos pelo Benfica com broadcasting, € 31,5 MM estão relacionados a valores pagos pela UEFA (prêmios de participação, de performance e o market-pool referentes à Champions League). Tais valores foram obtidos pelo clube português com uma campanha que parou nos oitavos-de-final da competição. Como comparação, o campeão da Copa Libertadores 2016 arrecadou cerca de USD 7,5 MM (aproximadamente € 6,8 MM em 2016), ou seja, o campeão do torneio sul-americano ganhou apenas um quinto do que um clube que alcançou apenas os oitavos-de-final no torneio europeu, evidenciando a mais-valia da participação em torneios de maior valor agregado.
No que tange a geração de receitas, o contexto competitivo descrito acima, assim como a maturidade gerencial na geração e manutenção de recursos, ajuda a explicar como um clube localizado em um país com 11% do PIB brasileiro consegue ter receitas operacionais recorrentes 37% maiores. Como atenuantes do cenário brasileiro, temos a desvalorização do real em relação ao euro e o maior número de grandes clubes, fator que aumenta a concorrência entre eles nas diversas fontes de receita.
Fonte: Banco Mundial
Em vista dos aspectos apresentados, mostra-se claro o papel que o ambiente possui na geração de receitas, uma vez que a UEFA, por meio de suas competições e mecanismos de distribuição de receitas, alavanca as receitas dos clubes participantes de suas competições muito mais do que a Conmebol, permitindo que um clube de um país com economia muito menor que a brasileira alcance receitas operacionais recorrentes maiores que um dos clubes com maior faturamento no Brasil. No caso europeu, ressalva-se que, por vezes, os clubes podem se tornar demasiadamente dependentes desses rendimentos provenientes da UEFA, principalmente os menores ou oriundos de economias mais fracas. Dessa forma, uma época de campanha desportiva muito abaixo do esperado e sem conquista de vaga nas competições europeias pode se tornar desastrosa para as finanças do clube.
Links sugeridos:
https://www.nytimes.com/2018/02/09/sports/soccer/uefa-champions-league.html
PARCEIROS