O futebol brasileiro passa por momentos de discussão acerca da forma como a governança se dá e com relação a questões jurídico-administrativas. Em meio tempo em que o Brasil vem perdendo o seu protagonismo no futebol mundial, as discussões em torno da inovação na gestão e com relação a obtenção de resultados têm se intensificado expressivamente. Por conta disso, muitos falam em adotar um modelo que, hoje, é adotado por muitos clubes europeus, os quais geram muita receita e apresentam resultados expressivos na modalidade: o modelo empresarial.
Indiscutivelmente, o futebol é atualmente visto como uma fatia do PIB brasileiro, pelo entretenimento e receita proporcionados para os entusiastas e envolvidos na modalidade. Visando um maior gerenciamento da receita surgem, no cenário atual, discussões acerca de projetos de lei que favorecem a adoção do modelo de clubes-empresa - como o PL 5.082/2016 - com as justificativas de que este dá credibilidade para investidores adentrarem na modalidade com um maior aporte financeiro, gerando uma maior circulação de dinheiro e por este promover o desenvolvimento do esporte.
Em meio a essa discussão, atualmente prevalece no futebol brasileiro o modelo associativo de clubes, nos quais as decisões são geralmente tomadas por um conselho administrativo e a sociedade em torno da entidade é constituída por entusiastas e pelos demais stakeholders da associação. Por conta disso, muitos clubes não vêem como benéfica a conversão para o modelo empresarial além do fato de que este gera muitas despesas provenientes de questões tributárias (como impostos).
Além da discussão em torno do modelo de gestão que deve ser exercido pelos clubes, um outro ponto que gera muitas reflexões é sobre a criação ou não de uma entidade responsável - liga ou associação, por exemplo - por organizar o futebol, no que tange às questões contratuais e que moldam as competições. Tal assunto é algo que começou a ser muito discutido, por conta de que em muitos países há uma entidade responsável por gerir o esporte, como no caso dos Estados Unidos da América, com a Major League Soccer e da Espanha, com a La Liga. Com relação a criação ou não de um grupo responsável por gerir a modalidade no país, os principais questionamentos são com base na maturidade e conhecimento dos gestores para lidar com a modalidade e formato do grupo, isto é, como as discussões serão feitas internamente, em prol do desenvolvimento da modalidade. Em contrapartida, muitos gestores afirmam a importância da união dos clubes visando uma tomada de decisão mais uniforme e benéfica, como era preferida pelo antigo “Clube dos 13”.
A discussão acerca dos diferentes modelos de governança evoluiu até meados de março de 2020, quando ocorreu a chegada da pandemia da COVID-19, que hoje assola o mundo todo e que impactou negativamente nas receitas de envolvidos na modalidade. Muitos clubes que vivem majoritariamente de receitas de direitos de transmissão e de patrocinadores se viram na obrigação de repensar as principais fontes de receita e até mesmo como os planejamentos financeiro e estratégico são elaborados no curto, médio e longo prazo.
Por conta disso, acredita-se que o período pós-pandemia intensifique as discussões acerca dos modelos de gestão adotados, seja pela forma como as atividades se dão interna e externamente nos clubes e principalmente por questões financeiras, que hoje colocam muitos clubes à beira da falência. O cenário é incerto, porém o desenvolvimento e o protagonismo do futebol brasileiro perante o mundo, como muitos desejam, precisa ser questionado e pensado com cautela.
A CONAFUT Live 2020, que aconteceu nos dias 23 e 24 de julho recebeu gestores de clubes brasileiros como Atlético Mineiro, Grêmio, Botafogo e Red Bull Bragantino e pessoas empresas que atuam nos demais setores da economia e que estão associados ao futebol, que falaram acerca do cenário que hoje o mundo passa, bem como de perspectivas do pós-pandemia. Muito do que hoje é discutido envolve diferentes posições acerca do tema ‘modelos de governança’, o que fomenta a formação da opinião de quem não atua dentro da modalidade. A CONAFUT não acabou, ela apenas começou!
Interessado no tema? Acesse o link CONAFUT e adquira o passaporte para a maior conferência do futebol brasileiro!
Luiz Fernando F. Fortes: Estudante do curso de Esporte da Escola de Educação Física e Esporte da USP e presidente da empresa júnior da escola
PARCEIROS