28/04/21

Ajoelhando contra o racismo

Na última semana, Slavia Praga e Arsenal realizaram o segundo jogo das quartas de final da Europa League. O vencedor do confronto ganharia o direito de avançar à semifinal do segundo torneio de clubes mais importante do continente europeu. Apesar da importância da disputa, o lado esportivo ficou em segundo plano no confronto entre tchecos e ingleses.

O grande destaque da partida foi a postura do Arsenal, liderada por Lacazette, atacante francês, que decidiu se ajoelhar para protestar contra o racismo em plena casa do Slavia Praga.

Alexandre Lacazette protestando ajoelhado em frente aos jogadores abraçados, em pé, do Slavia Praga

O importante gesto dos jogadores dos Gunners se deve ao contexto envolvendo o clube tcheco. No confronto pelas oitiavas de final da UEFA Europa League envolvendo Slavia Praga e Rangers, Glen Kamara, meia do clube escocês, foi vítima de racismo cometido por Ondrej Kudela, zagueiro dos tchecos. A UEFA, após investigar o incidente, suspendeu Kudela por 10 (dez) jogos.

A punição, tão rara no mundo do futebol – apesar da incessante luta contra o racismo –, só não foi mais exemplar porque a UEFA puniu Kamara com três jogos de suspensão pela expulsão na fatídica partida, que foi provocada pela forte – e justificada – reação que ele teve ao ser ofendido por Kudela.

Apesar do senso comum de que o racismo não cabe em nossa sociedade, diversos ultras – os tais torcedores organizados – do Slavia Praga apoiaram Kudela e ostentaram faixas contendo xingamentos racistas direcionados a Kamara. O Presidente da República Tcheca, ao invés de apoiar a punição aplicada ao defensor do clube tcheco, criticou a postura da UEFA no caso. Um verdadeiro escárnio.

Para piorar a situação, os jogadores do Slavia Praga, que tinham tudo para apoiar a luta contra a discriminação racial, trocaram o ato de se ajoelhar pelo tradicional abraço na primeira partida das quartas de final contra o Arsenal, disputada na casa dos Gunners.

Ainda que ninguém possa ser obrigado a se manifestar de determinada forma em prol de qualquer causa que seja, o contexto envolvendo o Slavia Praga demandava um gesto mais forte e carregado de simbologia: ajoelhar-se.

Colin Kaepernick ajoelhado ao lado de dois companheiros de equipe durante o hino nacional dos Estados Unidos.

O gesto de se ajoelhar para protestar contra o racismo ganhou notoriedade em 2016 pela coragem de Colin Kaepernick, que, para protestar contra a violência policial contra os negros nos Estados Unidos, decidiu se ajoelhar durante a execução do hino nacional norte-americano antes de cada partida da NFL. Infelizmente, o ato de se ajoelhar foi marcado mais pelas críticas de Donald Trump, então Presidente dos Estados Unidos, de uma parcela mais conservadora da sociedade e de setores da mídia, que tentaram tirar o foco da luta contra o racismo ao demonizar a ação de Kaepernick, do que pela representatividade daquele importante gesto de protesto.

O ato de se ajoelhar voltou a ganhar importância em 2020 após o brutal assassinato de George Floyd. O autor do crime foi um policial branco que, como as imagens capturadas pelos celulares das testemunhas mostraram, ajoelhou-se sobre o pescoço de George por mais de oito minutos. As filmagens chocaram o mundo e alimentaram ainda mais a luta contra o racismo. Afinal, um branco assassinou um homem negro com o mesmo gesto usado pelos próprios negros para lutar contra a discriminação racial.

Desde então, jogadores, clubes e diversas ligas esportivas pelo mundo adotam o ato de se ajoelhar antes do apito inicial para demonstrar o apoio à luta contra o racismo. A Premier League, por exemplo, é uma dessas ligas.

Voltando para o confronto das quartas de final, a partir do momento em que se recusaram a se ajoelhar, os jogadores do Slavia Praga demonstraram discordância com a punição imposta a Kudela pelo comportamento racista contra Kamara e, consequentemente, ratificaram o reprovável comportamento de seu companheiro de equipe.

Diante de tal contexto, o protesto liderado por Lacazette – ajoelhar-se na segunda partida das quartas de final, realizada na casa do Slavia Praga – foi poderoso e carregado de simbologia por demonstrar que o racismo, independentemente da situação, é inaceitável e deve ser combatido a todo custo.

De quebra, o Arsenal, após um melancólico empate em Londres, não tomou conhecimento do Slavia Praga ao emplacar um sonoro 4 a 0. O resultado encerrou a participação do clube tcheco na UEFA Europa League, que terá um bom tempo para refletir sobre que tipo de instituição pretende ser.

Twitter - Advogado, futebolista de ocasião e amante de todos os aspectos do futebol - dentro e fora de campo!


Compartilhe

Compartilhar

PARCEIROS

Arena Corinthians
Grupo Figer
hudl
Trevisan
Doentes por Futebol
Editora Grande Área
Arima e Associados
CNB
5e27
OutfField
Tactical Pad
LGZn
Ticket Agora
Player Hunter
Maringá Futebol Clube
Mogi das Cruzes Basquete
gradeUP
Mitchell & Ness
End to End
SporTI