20/05/21

Dinossauro Em Extinção 

Em tempos de Bayern de Munique enfileirando 09 títulos seguidos de Bundesliga, de Borussia Dortmund como o grande rival dos Bávaros na luta pelo posto de principal clube do futebol alemão e de um RB Leipzig que cada vez mais confirma que chegou para lutar pelas primeiras colocações, poucos são os que se lembram do grande e tradicional Hamburgo, atualmente na 2.Bundesliga. 


O Hamburger Sport-Verein e.V, o popular Hamburgo, foi fundado em 1919, fruto da fusão do Sport-Club Germania Hamburg, do Hamburger FC e do FC Falke Eppendorf, clubes que enfrentavam dificuldades financeiras após o fim da Primeira Guerra Mundial. 
Os primeiros efeitos da fusão foram sentidos em 1923, ano do primeiro título de campeão alemão do Hamburgo. Depois de um vice-campeonato em 1924, a segunda conquista veio em 1928. O terceiro título nacional apenas viria na temporada 1959/1960, após derrotar o Colônia por 3 a 2 na final. 


A terceira conquista deu aos hamburgueses o direito de disputar a Copa dos Campeões da Europa – antiga UEFA Champions League. O clube alemão não fez feio, sendo apenas eliminado na semifinal da competição pelo Barcelona do brasileiro Evaristo de Macedo, dos húngaros Kocsis e Czibor, e do espanhol Kubala – o Barça perderia a final para o Benfica de Coluna, Águas e companhia.
Os êxitos esportivos fizeram com que o Hamburgo fosse, em 1963, convidado a integrar o grupo de 16 clubes fundadores da Bundesliga, a primeira liga de futebol profissional da Alemanha. E foi justamente nos anos seguintes ao da formação da Bundesliga que o Hamburgo atingiu o seu período de maior sucesso e dominância no futebol alemão.


O ponto de partida foi o título da Bundesliga em 1978/1979. Na temporada seguinte, o Hamburgo foi vice-campeão alemão e da UEFA Champions League – perdeu a final para o surpreendente Nottingham Forest de Brian Clough. Após mais um vice na Bundesliga na temporada 1980/1981, o lendário Ernst Happel assumiu o comandado e conduziu o Hamburgo a uma sequência até hoje única na história do clube. 


Na temporada 1981/1982, a primeira de Happel como técnico dos hamburgueses, o Hamburgo conquistou o título da Bundesliga e foi vice da Copa da UEFA – a atual Europa League. Em 1982/1983, veio a consolidação do trabalho do lendário treinador, e o ponto alto da trajetória do Hamburgo, com mais uma conquista de Bundesliga e o título da UEFA Champions League após bater a Juventus por um a zero – gol de Felix Magath. 


A temporada 1982/1983 só não foi perfeito porque o Hamburgo perdeu por 2 a 1a final do Mundial Interclubes para o Grêmio de um jovem e impetuoso Renato Gaúcho, autor dos dois gols gremistas e eleito o melhor jogador da partida. 
Os anos seguintes à mágica temporada de 1982/1983 foram marcados por dois vices da Bundesliga – 1983/1984 e 1986/1987 – e por uma conquista da Copa da Alemanha em 1986/1987, a última temporada de Ernst Happel no comando do Hamburgo. 
O impacto de Happel é inegável. O lendário treinador austríaco fez com que o Hamburgo se tornasse o quarto maior campeão alemão com seis títulos – à época atrás apenas de Bayern de Munique, Nuremberg e Schalke 04 – e a segunda equipe alemã a conquistar a UEFA Champions League – o primeiro havia sido o Bayer, com o tricampeonato em 73/74, 74/75 e 75/76.  


Apesar da saída do treinador mais importante de sua história, esperava-se que o Hamburgo pudesse retomar o caminho das glórias em pouco tempo. Mas o que se viu, no entanto, foi o oposto. 
Uma sequência de péssimas administrações mergulhou o Hamburgo em uma crise financeiro logo no início dos anos 90. As dificuldades econômicas apenas permitiram aos hamburgueses brigar pelo meio da tabela – sem almejar grandes aspirações, portanto. 
Os anos 2000 marcaram um período de recuperação do Hamburgo, que passou a ocupar a parte de cima da classificação com mais frequência, chegando, inclusive, a voltar a participar da UEFA Champions League, mas ainda muito longe do sucesso dos anos 80, sob o comando de Ernst Happel. 


A retomada do Hamburgo chegou ao fim em 2011/2012. Naquela temporada o clube terminou na 15ª colocação e iniciou um período de declínio sem precedente em sua história. Após um bom sétimo lugar em 2012/2013, os hamburgueses tiveram um 2013/2014 ainda mais desastroso do que a temporada 2011/2012, terminando em 16º lugar e tendo de enfrentar o Greuther Furth, terceiro colocado na 2.Bundesliga, no playoff de rebaixamento. A permanência do Hamburgo veio depois de um duplo empate em que o gol fora de casa foi determinante– 0 a 0 em Hamburgo e 1 a 1 em Furth. 


O roteiro da temporada anterior se repetiu em 2014/2015: 16º lugar e a necessidade de novamente disputar o playoff de rebaixamento, só que dessa vez contra o Karlsruher SC. Após um empate de 1 a 1 em Hamburgo, os hamburgueses pareciam destinados a encerar o seu primeiro descenso na história. No entanto, os Deuses do Futebol decidiram dar uma nova chance do Hamburgo, que arrancou um empate aos 46 do segundo tempo para levar a segunda partida à prorrogação. No tempo extra, o Hamburgo se salvou com um de Nicolai Müller a menos de cinco minutos para que a disputa terminasse nas cobranças de pênalti. 


As constantes lutas contra o rebaixamento aniquilaram a reputação do Hamburgo como um dos grandes da Alemanha. Diante de tamanho caos e desalento, ao torcedor restava o orgulho de o Hamburgo ser chamado de Dinossauro, em razão de sua longevidade na elite do futebol alemão e por ostentar o “título” de único clube a ter disputado todas as edições da Bundesliga.


A importância de nunca ter sido rebaixado fez com que o Hamburgo instalasse em seu estádio um relógio para marcar o seu tempo total de permanência na Bundesliga.
Como tradição e história não garantem bons resultados esportivos, o Hamburgo, pessimamente gerido por mais de duas décadas, fez valer o ditado “água mole em pedra dura tanto bate até que fura” ao terminar a temporada 2017/2018 em 17º lugar e ser rebaixado para a 2. Bundesliga pela primeira vez em sua longa história. Relógio zerado – nem tanto, já que a direção decidiu que o relógio passaria a marcar o tempo de fundação do clube. 


É natural que o rebaixamento de um grande clube como o Hamburgo, por exemplo, faça com que todos pensem que o calvário na segunda divisão se limitará a um ano, e que o retorno à elite virá com certa tranquilidade. Mas não no caso do Hamburgo, que fez valer outro ditado popular: “errar é humano, permanecer no erro é burrice”. 


A sequência de más gestões cobrou o seu preço logo na temporada 2018/2019, a de estreia do Dinossauro na 2. Bundesliga. Após terminar a primeira metade do campeonato com seis pontos de diferença para o primeiro clube fora da zona de acesso, a equipe teve uma queda de rendimento vertiginosa no segundo turno, e terminou a temporada em um triste quarto lugar – fora, portanto, da zona de promoção. 


O cenário da temporada anterior se repetiu em 2019/20 - um primeiro turno tranquilo, uma inexplicável queda no segundo turno e, uma vez mais, o quarto lugar na classificação final. 
Calejado depois de duas temporadas batendo na trave para voltar à elite do futebol alemão, acreditava-se que o Hamburgo estava mais do que pronto para finalmente disputar a Bundesliga em 2021/2022 – e o início da atual edição da segunda divisão reforçou essa impressão. 
Apesar de um começo de temporada irregular, o Hamburgo fechou o primeiro turno na zona de acesso, alimentando as esperanças do torcedor de que o fim do purgatório estava próximo. No entanto, eis que o fantasma do Natal passado reapareceu e, novamente, aniquilou o desempenho do Dinossauro do segundo turno. Após emendar cindo jogos sem uma mísera vitória, o Hamburgo se viu fora da zona de promoção a duas rodadas do fim e com três pontos de desvantagem para o Greuther Furth, terceiro colocado e certamente sedento para devolver o resultado do playoff de rebaixamento da temporada 2013/2014, vencido pelos hamburgueses.  


O desespero do Hamburgo foi tamanho, que a direção do clube nomeou o veteraníssimo Horst Hrubesch, atualmente com 70 anos, como treinador. Como um bom clube do futebol brasileiro, o Hamburgo apelou para um veterano com longa ligação com o clube – Hrubesch estava presente naquela equipe que ganhou três títulos de Bundesliga e se sagrou campeão da UEFA Champions League em cima da Juventus – como salvador da pátria. 
É evidente que a estratégia desceu pelo ralo logo no segundo jogo de Hrubesch no comendo do Hamburgo: derrota por 3 a 1 para o VfL 1899 Osnabruck, 16º colocado e candidato ao rebaixamento para a terceira divisão. 
O quarto ano seguido disputando a 2. Bundesliga precisa ser um divisor de águas para o Hamburgo, que não tem o direito de errar. Uma nova falha na busca pela promoção para a Bundesliga pode significar o encolhimento definitivo do Dinossauro, que estará mais próximo do St. Pauli, seu rival local e um habitué na segundo divisão do futebol alemão, do que de retomar o status de grande clube alemão. 


Pelo bem do futebol e pela bela história construída, a torcida é para que o Hamburgo se reorganize e, com isso, reencontre o caminho das glórias. 
 

Twitter - Advogado, futebolista de ocasião e amante de todos os aspectos do futebol - dentro e fora de campo!


Compartilhe

Compartilhar

PARCEIROS

Arena Corinthians
Grupo Figer
hudl
Trevisan
Doentes por Futebol
Editora Grande Área
Arima e Associados
CNB
5e27
OutfField
Tactical Pad
LGZn
Ticket Agora
Player Hunter
Maringá Futebol Clube
Mogi das Cruzes Basquete
gradeUP
Mitchell & Ness
End to End
SporTI