A ameaça dos clubes europeus ao mercado brasileiro é cada vez maior e este fato não é novidade para aqueles que acompanham o futebol mais de perto. Dentre os principais fatores dessa ameaça, temos a exposição cada vez maior – e mais bem-feita – dos principais clubes europeus ao mercado brasileiro e o enfraquecimento comparativo do futebol doméstico. Destaca-se que o caminho parece sem volta, exceto se os times brasileiros conseguirem fortalecer suas equipes e marcas a ponto de diminuir a distância para as agremiações europeias, o que parece bastante improvável no cenário atual.
Alguns indicativos dessa ameaça são os números de vendas de camisa – Real Madrid, Barcelona, PSG, Bayern de Munique e Manchester United estão entre as top 20 camisas mais vendidas na Netshoes em 2017 – e as curtidas em redes sociais que as potências do Velho Continente têm no Brasil, permitindo vincular mensagens cada vez mais personalizadas e efetivas para atrair e cativar o público.
Contudo, tão interessante quanto o fenômeno são as explicações encontradas na Economia para entende-lo. Uma passagem interessantíssima do livro Soccernomics (2009) apontava que:
“Rivais estrangeiros não podem penetrar no mercado e fornecer futebol por preço menor. As regras protegem os clubes nacionais ao proibir que rivais estrangeiros participem de seu campeonato”
Em minha opinião, a sentença descrita acima é parcialmente verdade, pois é absolutamente verdadeiro que os rivais estrangeiros não podem participar dos campeonatos domésticos, mas, com a disseminação da transmissão do futebol, podem fornecer, e de fato fornecem, futebol por preço menor. Ressalta-se que a passagem destacada acima foi encontrada em um livro de 2009, ou seja, quando apesar de existirem, as transmissões televisas de campeonatos estrangeiros não tinham o alcance e o patamar que possuem atualmente.
Por muitas décadas o futebol brasileiro foi um mercado fechado, com pouca ou nenhuma ameaça real de concorrentes externos nas preferências do torcedor local. Por anos, o torcedor local teve pouco ou nenhum acesso ao futebol internacional e os poucos que conseguiam tal acesso faziam de maneira proativa por serem extremamente aficionados pelo tema.
Com o início e disseminação das transmissões de futebol europeu, principalmente nas TV a cabo, os torcedores brasileiros passaram a ter acesso ao futebol europeu de forma mais barata do que o de muitos clubes nacionais. Atualmente, é possível acompanhar quase todos os jogos dos principais clubes europeus com pacotes básicos de TV a cabo, ao passo que para acompanhar todos os jogos de um time brasileiro é necessário além dos pacotes básicos de TV a cabo, adquirir planos de pay-per-view, ou seja, é necessário pagar mais por um produto de qualidade normalmente inferior. Um pouco mais à frente na linha do tempo, a internet e redes sociais ajudaram a aproximar os torcedores dos clubes europeus, relativizando a distância física e permitindo que esses explorassem cada vez mais o potencial comercial dessa relação.
Por fim, uma vez que a globalização faz com que as raízes locais sejam cada vez mais fluidas, relativizando a questão do local de nascença ou moradia para a paixão por um time de futebol, comportamentos economicamente irracionais justificados por essa paixão, como adquirir um produto “pior” por um preço maior, ficam com um sentido cada vez menor.
Links de referência:
http://especiais.correiobraziliense.com.br/time-do-coracao
Livro: Soccernomics
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