27/04/18

O PREÇO DO FUTEBOL NO BRASIL PT. 1 - PRIMEIRAS IMPRESSÕES

Recentemente, estava lendo no ótimo Olhar Crônico Esportivo (OCE) um texto que questionava se o futebol brasileiro havia se tornado mais caro para o torcedor. Em suma, o texto compara o ticket médio (total de renda dividido pelo total de público) como percentual do salário mínimo ao longo dos anos. Como uma das conclusões, tem-se que o ticket médio como percentual do salário mínimo na Séria A do Campeonato Brasileiro é bastante estável desde 2005.

Ao ler o texto, que tem outras conclusões interessantes e vale a pena ser lido, fiquei curioso a respeito da comparação de tal índice com outros países. Contudo, se no índice original do OCE a comparação é com o salário mínimo, este breve levantamento buscou comparar o ticket médio da principal liga de diversos países com o salário médio. Ressalta-se que comparar salários mínimos pode ser bastante complicado ao cruzar informações de diversos países devido às diferenças de jornadas de trabalho semanais e legislações específicas de cada país.

Portanto, foi escolhido como parâmetro de comparação o salário médio devido à disponibilidade, confiabilidade e comparabilidade da informação entre diversos mercados. Além disso, foram selecionados para comparação países que, assim como o Brasil, possuem uma “cultura futebolística”, ou seja, países nos quais o futebol ocupa uma parte significativa da vida social. Dessa forma, escolheu-se para comparação os países europeus classificados para a Copa 2018 (exceto a Sérvia por falta de informações), além da Itália.

Obviamente, há países importantes com cultura de futebol em outros continentes, mas a dificuldade na obtenção de informações confiáveis acerca dos tickets e salários médios poderia distorcer a análise.

A tabela abaixo mostra as informações de ticket médio (a), salário médio mensal (b), além da relação entre os dois (ordem de listagem):
                                                                

Uma breve análise das informações obtidas com a tabela nos permite chegar a alguns insights:

  • Apesar de serem ligas pouca atrativas, é curiosa a colocação dos países nórdicos, nomeadamente Suécia, Dinamarca e Islândia, juntos nas últimas posições do ranking. Apesar de todo o frenesi causado pela Seleção Islandesa nos últimos tempos, ainda é absurdamente barato assistir a uma partida do campeonato local;
     
  • Exceto por Rússia e Brasil, a relação entre ticket médio é maior nas ligas mais atrativas para o público, nomeadamente Inglaterra, Espanha e Alemanha, ou seja, a qualidade do produto “permite” a cobrança de um valor maior;
     
  • A posição da Itália no ranking pode ser sinal da situação dos seus estádios, em sua maioria defasados em face das modernas praças desportivas presentes em outros países, ou seja, não há espaço para a cobrança de tickets mais caros em estádios antigos. Lembremos que a última grande competição futebolística (Copa do Mundo ou Eurocopa) sediada pelos italianos foi a Copa 1990. Apesar das justas críticas acerca da construção de elefantes brancos, sediar tais eventos é um impulso para a renovação dos estádios em um dado país.

Por fim, ressalta-se que a simples comparação entre os tickets e salários médios é insuficiente para concluirmos algo a respeito do acesso democrático dos torcedores aos estádios. Para fazer tal análise, um aspecto subjetivo, seria necessária a análise de mais alguns fatores: preços dos bilhetes mais baratos à disposição dos torcedores, quantidade desses assentos e comparação com a distribuição de renda da sociedade, localização desses assentos, disponibilidade e qualidade de transportes públicos para acesso ao estádio, dentre outros.

Bruno Duarte é Mestrando em Gestão do Desporto na Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa.

Graduado em Administração pela Universidade de São Paulo com atuação nas áreas de Inteligência de Mercado, Planejamento Estratégico e Gestão de Projetos.

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