14/05/18

“De sexto bloqueador a trunfo imprescindível”: como a posição de tight end evoluiu até hoje

Se você, leitor, começou a acompanhar a NFL nos últimos três ou quatro anos, como estima-se que mais de 30% do público brasileiro de futebol americano tenha feito, muito provavelmente não imagina o jogo sem a presença de um tight end (TE). Na verdade, corrigindo: talvez você nem saiba exatamente o que é um tight end. E isso aconteceria não porque seu conhecimento sobre futebol americano é raso, mas sim porque nos dias de hoje eles têm sido confundidos com os exímios recebedores da modalidade. Portanto, não é que você não os reconheça (se for o caso), mas sim esteja confundindo-os aos wide receivers.

Você talvez esteja se perguntando o porquê de analisar os tight ends aqui. Isso acontece por uma série de razões: primeiramente, porque é provável que a próxima classe de indicados ao Hall da Fama tenha Tony Gonzalez, que seria até hoje o único da posição da história a entrar “logo de cara” em Canton. Em segundo lugar, o TE Jason Witten anunciou aposentadoria na semana passada; e vale a pena ver como ele escreveu seu nome na história do esporte. Além disso, os tight ends vêm sendo uma das armas mais interessantes na NFL dentro e fora de campo – não por acaso, quatro prospectos da posição foram selecionados na primeira rodada do Draft desde 2017, sendo Hayden Hurst o último deles, pelos Ravens.

Mas nem sempre foi assim. O fenômeno dos TEs super atléticos e atuando pelas laterais nos sistemas ofensivos da NFL e college football é algo recente e fruto de uma mudança de concepção da liga e da função que começou a se concretizar de fato somente no fim da década de 1980 – e é exatamente isso que fora tratalho neste texto.

 

“O sexto homem da linha ofensiva”

A posição de tight end existe desde que a NFL começou a funcionar de fato, na década de 1920. Essencialmente, essa posição engloba jogadores fortes e ágeis. É um “meio termo” entre os bloqueadores e os recebedores, uma vez que não é nem tão grande/forte quanto os homens de linha ofensiva, e nem tão ágil/rápido quanto aos wide receivers. Portanto, a posição de TE é considerada híbrida, uma vez que tem como funcionalidade tanto o apoio nos bloqueios quanto à recepção dos passes. Curioso é que os tight ends começaram a aparecer efetivamente no passado pois o sistema de regras em vigência era o “one-platoon”, que exigia que os jogadores de ataque defendessem e vice-versa. Contudo, surgiram aqueles atletas que eram bons recebedores e bloqueadores, mas não conseguiam defender.

Os anos foram se passando, a especialidade de cada jogador por uma posição foi ganhando espaço e a NFL começava a ser modulada para a forma dos dias de hoje. Os tight ends já existiam e eram recrutados nos draft, mas a verdade é que eles eram pouco utilizados nos parâmetros da atualidade. Na época, devido à baixa estatura e algumas vezes até despreparo dos bloqueadores, os TEs eram focados aos bloqueios, posicionados quase como um “sexto homem de linha ofensiva” – isso começou a mudar no início dos anos 60.

Em 1961, Mike Ditka foi recrutado. Dois anos mais tarde, foi a vez de John Mackey aparecer na liga. Ambos, além de se destacarem como bloqueadores, mostraram que poderiam brilhar com a bola nas mãos também. Ambos foram, de um modo geral, os dois primeiros nomes da posição a quebrar o padrão dos TEs estáticos na linha de scrimmage. Ditka e Mackey podem ser vistos como os primeiros tight ends playmakers da NFL.

 

O trunfo que cria confrontos desfavoráveis

A próxima grande mudança entre os tight ends aconteceu no começo da década de 1980, com Kellen Winslow. Certamente que antes disso nomes de destaque estiveram em pauta, contudo, em termos de impacto para o futebol americano, esse foi o primeiro desde de Ditka/Mackey. Winslow atuava sob o comando de Don Coryell, uma das figuras mais reconhecidas da NFL quando o assunto é ataque. Coryell foi pioneiro no ato de colocar rotas completas (usadas até então para os wide receivers) aos tight ends, os quais ficavam restritos aos passes curtos e para o meio do campo. Mas os TEs não poderiam executar rotas complexas saindo da linha ofensiva; ponto para Coryell mais uma vez, que passou a deixar seus tight ends soltos, variando-os entre OL, slot (mais centralizado) e wide receiver. Tudo isso foi um sucesso: as defesas adversárias simplesmente não sabiam como parar Winslow.

O “desespero” dos oponentes em consequência à genialidade de Coryell e talento de Winslow introduziu ao mundo do futebol americano a essência do tight end moderno. Atualmente, os TEs se posicionam frequentemente abertos, alcançando números superiores inclusive aos de WRs. E mais: os tight ends mais visados nos dias atuais não são os bons bloqueadores; mas sim aqueles que melhor combinam força, agilidade, técnica e precisão nas rotas.

O interessante da posição de tight end é que ela dificulta os confrontos individuais entre ataque e defesa no decorrer do jogo. Como você consegue parar um TE? Se você posiciona um linebacker individualmente, esse defensor, por mais que tenha a mesma força, perderá na velocidade. Se for um defensive back, a velocidade equipara, mas a estatura dos TEs é maior.

Detalhe interessante é que esse desequilíbrio causado por bons tight ends em campo tem valorizado e impulsionado cada vez mais os defensores versáteis, os quais já podem até ser considerados híbridos pela possibilidade de atuar tanto na secundária quanto no front seven. Entender a posição de tight end atualmente vai além de saber mais de uma das funções mais importantes do futebol americano; é também compreender parte do que ainda está por vir na NFL. 

Caio Miari Santos, 22 anos, jornalista e apaixonado por esportes, enfatizando os americanos, principalmente o futebol americano. É também fundador do Shotgun, no qual produz, apresenta e edita os podcasts do Rádio Shotgun! Contribui semanalmente com um texto sobre a bola oval para a THE360.

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