Mais de dois anos se passaram desde a última vez que Colin Kaepernick foi visto em um gramado de futebol americano. Aquela história que se caminhava para ser uma das mais marcantes da NFL, mudou de rumo, e se tornou uma das mais polêmicas. Um dos melhores quarterbacks, tornou-se um dos mais evitados quarterbacks. Mas evitado não pelos adversários em campo, e sim pelos proprietários das franquias da liga.
Ao aparecer em comercial da Nike, Kaepernick voltou a estar em pauta no futebol americano. Novamente, ele aglomerou questões sociais, raciais e até mesmo políticas, mesmo estando desempregado. Curioso é que há quem pensa que o motivo de ele ser free agent está dentro das quatro linhas. Apenas considere que “quem é rei nunca perde a majestade”.
Um fenômeno chamado Kaepernick
Colin Kapernick atingiu um nível que poucos quarterbacks conseguem. Comparando-o aos mais de 80 que estão empregados por alguma franquia da NFL, pode-se dizer que no máximo 15 chegaram ao patamar de desempenho que Kaepernick teve no seu auge. Ele esteve em duas finais de conferência consecutivas, incluindo uma ida ao Super Bowl, por exemplo. O camisa #7, em seu primeiro jogo de pós-temporada da carreira, quebrou o recorde de jardas corridas por um QB nos playoffs (181).
Depois de ter chegado à NFL em 2011, Colin foi reserva dos 49ers no ano de calouro e só assumiu a titularidade do time na semana 10 de 2012, após uma lesão de Alex Smith. Entre as rodadas 10 e 16, Colin Kaepernick obteve quatro atuações com rating acima de 100, venceu cinco partidas e totalizou dez touchdowns aéreos. Em 2013, como titular absoluto, o quarterback teve o melhor ano de sua carreira. Foram 12 vitórias na temporada, 26 touchdowns totais e oito interceptações. Importante ressaltar também que ele esteve rodeado por um (muito) sólido time de futebol americano.
A comparação com outros quarterbacks
Antes de desenrolar a carreira de Colin Kaepernick, vale salientar a comparação de números entre o ex-49ers e outros QBs que estão na NFL atualmente. Verdade seja dita, mesmo que em alguns casos os números possam indicar outra coisa (nos Browns, por exemplo), não é um absurdo pensar que 31 franquias têm hoje quarterbacks titulares mais seguros para o elenco – em competitividade – do que Kaep. A exceção, que neste caso indica que Colin poderia até brigar pela titularidade, é o Buffalo Bills. Buffalo tem Nathan Peterman e Josh Allen na equipe. Allen é um novato promissor, mas que precisa de alguns anos como reserva para se adaptar à NFL. Já Peterman, escolha de quinta rodada em 2017, tem somente duas partidas como titular na liga (duas derrotas, aliás), incluindo dois TDs e cinco INTs.
A última vez que Colin Kaepernick foi titular na NFL foi em 2016. Seus números: 11 partidas, 59,1% de aproveitamento nos passes, 2.241 jardas aéreas, 16 touchdowns e quatro interceptações. Ele venceu uma vez.
Se compararmos o desempenho de Kaepernick há dois anos com os outros QBs da liga naquela mesma temporada, percebe-se que seus números não são condizentes à função do jogador atualmente. 59% de aproveitamento foi a 28ª melhor marca da NFL, à frente de titulares atuais como Blake Bortles e Cam Newton, e de backups renomados, como Ryan Fitzpatrick. Ademais, sua proporção de TD-INT (16-4) foi a sétima melhor de toda (!) a liga.
A questão aqui não é dizer que Colin deve substituir Bortles, Newton ou Fitzpatrick. Só chama a atenção o fato de Kaepernick ter atuado no patamar de titulares na NFL recentemente e, após ter deixado os Niners em março de 2017, nenhuma franquia tê-lo contratado. Ficou claro que o nível que Colin Kaepernick atingiu em 2012 e 2013 foram “surreais”, ou seja, ele não é tão brilhante quanto foi visto. É preciso considerar que o time que estava à sua volta era muito bom, assim como o treinador. Todavia, até mesmo se olharmos as médias dos piores dias de Kaepernick, fica claro que ele é melhor que muitos na atualidade.
Em geral, ele tem estatísticas melhores do que Matt Barkley, Brock Osweiler, Trevor Siemian... Todos eles são QBs empregados atualmente. Lembrando que estamos falando de 64 quarterbacks principais dos elencos (titulares e os reservas).
Por que Colin está desempregado?
Há quem diga que o fato de Colin Kaepernick estar longe dos gramados atualmente é devido ao seu desempenho dentro de campo. Pelo que foi visto, isso não faz tanto sentido. Você pode até dizer que não quer ver Kaepernick como titular em seu time, contudo, não encontrará 32 reservas melhor que ele.
Fica inevitável não atrelar a situação profissional de Colin aos protestos iniciados por ele na NFL. Justamente em 2016, o quarterback começou a ajoelhar-se antes do Hino Nacional nas partidas, protestando contra questões principalmente raciais nos EUA.
Lembre-se que as franquias da liga são propriedades privadas (com exceção do Green Bay Packers). Os (bilionários) proprietários dos times têm seus ideais e, obviamente, regem suas equipes de acordo com o que gostam ou desgostam. Querer evitar o que eles consideram uma distração do futebol americano para a franquia, é um direto deles. E aparentemente tem sido exercido.
No fim das contas, Colin Kaepernick foi de um dos rostos da NFL em campo a um dos rostos da Nike, fora dos gramados. E ele não quis que isso acontecesse. Lembra quando foi citado que “quem é rei nunca perde a majestade”? Então, a questão neste caso é que Kaepernick agora foi coroado como um vilão para as franquias da NFL; não mais pelo que acrescenta como quarterback. Ele ainda não voltou a jogar futebol americano profissionalmente. Mas deveria.
Caio Miari Santos, 22 anos, jornalista e apaixonado por esportes, enfatizando os americanos, principalmente o futebol americano. É também fundador do Shotgun, no qual produz, apresenta e edita os podcasts do Rádio Shotgun! Contribui semanalmente com um texto sobre a bola oval para a THE360.
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